Nós, seres humanos, somos bastante resilientes quanto o assunto é sobreviver em condições consideradas “extremas”. Basta dar uma olhada nas pessoas que vivem em cidades extremamente frias nos pontos mais isolados da Rússia, ou então nas temperaturas escaldantes das cidades que circundam os desertos africanos. Mas nenhuma criatura consegue ser mais resiliente do que os tardígrados. Não é à toa, inclusive, que muitos dizem que ele é simplesmente imortal.
O tardígrado é a maior prova viva de que o tamanho nem sempre é documento no mundo animal. Medindo apenas um milímetro, esta criatura passa totalmente despercebida ao olhos humanos, mas apesar do seu tamanho minúsculo ele é muito mais forte e resistente do que nós. Esses animais, que só podem ser vistos com o auxílio de um microscópio, já foram encontrados no fundo do mar, no topo de árvores em florestas, nas tundras da Antártica e até mesmo nas superfícies de vulcões. E o mais bizarro de tudo é que, em alguns estudos, os tardígrados chegaram a ser enviados para o vácuo do espaço, e ainda assim sobreviveram e voltaram para a Terra totalmente saudáveis.
Além de toda essa capacidade de sobrevivência, ao que tudo indica os tardígrados também representam uma espécie extremamente longeva. Afinal de contas, ainda que tenham sido descobertos apenas em 1773 por um estudioso alemão, Johann August Ephraim Goeze, fósseis deles já foram encontrados e datados de 530 milhões de anos atrás. Atualmente, a ciência já conhece pelo menos 700 espécies de tardígrados vivendo nos mais variados tipos de habitat.
Quando você olhe bem de perto, essas pequenas criaturinhas se assemelham de certa forma com pequenos ursinhos. Por conta disso, Goeze deu a eles o nome de ‘kleiner Wasserbär’ (pequeno urso d’água) – um apelido que ainda é consideravelmente popular por aí, ainda que a maioria dos artigos sérios utilizem o termo ‘tardígrado’ para se referir a eles.
RESISTÊNCIA EXTREMA
Há muitos anos, a ciência se dedica a tentar entender como esse pequeno animal pode ser tão resistente. Afinal de contas, não se conhece no mundo outra criatura capaz de resistir tão bem à água, fogo, escassez de alimento, privação de oxigênio, pressões e temperaturas e extremas e até mesmo ao vácuo do espaço.
O que já sabemos sobre os mistérios desta criatura “imortal” é que, em condições muito secas, ela assume uma forma de “tonel” – estado no qual é elevada a produção de glicerol, conhecido como um anticongelante, que ajuda o animal a sobreviver. Enquanto estão nesta forma de tonel, os tardígrados também reduzem o metabolismo em até 99,99%, fazendo com que a alimentação não seja totalmente necessária. De acordo com os cientistas, eles podem sobreviver por pelo menos 100 anos sem qualquer tipo de alimentação enquanto estão nessa forma. Em nome da ciência, vários tardígrados em forma de tonel já foram enviados para climas extremos ao redor do mundo, e eles foram capazes de sobreviver até mesmo ao rigoroso inverno ártico. Em 2016, cientistas deram mais um avanço no sentido de compreender essas criaturas, revivendo um tardígrado que estava congelado há mais de três décadas, abrindo novas teorias sobre a sobrevivência deste animal em relação às temperaturas extremas. Quanto à alimentação, este pequeno “imortal” consome principalmente musgos e algas, além de outras substâncias vegetais. Algumas espécies também se alimentam de bactérias, enquanto outras (bem raras) são carnívoras, se alimentando de espécies menores do que elas.
Mas ainda que essas criaturas sejam incrivelmente resistentes aos mais variados habitats possíveis, elas preferem viver em lugares não tão extremos assim. Afinal de contas, um ambiente muito nocivo pode acabar fazendo mal a elas ao longo do tempo. E é justamente por isso que você pode procurar tardígrados por conta própria, desde que você tenha um microscópio por perto. Para encontrá-los, o ideal é pegar um pedaço de musgo e colocá-lo dentro da água durante a noite. Isso é importante para hidratar os tardígrados e fazer com que eles saiam de seu estado de tonel. Ao amanhecer, pingue algumas gotas d’água em um vidro, e aponte seu microscópio para lá. Com um pouco de sorte, você conseguirá encontrá-los! E aí você estará frente a frente com uma das criaturas mais incríveis do nosso planeta.
Com informações do All That’s Interesting.