Em 2016, Laurie Anderson criou uma performance de cinco dias na capela de Saint Mark em Brighton, na Inglaterra, como uma homenagem à Metal Machine Music de Lou Reed. A performance contou com oito guitarras automatizadas, amplificadores e feedback ecoando na igreja anglicana. Foi uma homenagem apropriada a Reed, já que a performance foi um zumbido dissonante e sustentado que também evocou os mistérios da fé e a encarnação de anjos rebeldes.
Outro exemplo de peça performática longa é a performance da composição de John Cage “As Slow as Possible“, ou “Tão Lento Quanto Possível” que começou na igreja St. Burchardi em Halberstadt, Alemanha, em 5 de setembro de 2001.
A versão original dessa música foi composta como uma peça de piano, e duraria somente 20 minutos.
Mas a performance pretendida por Cage deve durar 639 anos, o que é um empreendimento monumental e levanta uma série de questões. A mais óbvia é se a coordenação e a manutenção necessárias para sustentar o desempenho por mais de 600 anos serão possíveis.
O órgão que está sendo utilizado para esta performance é automatizado, por meios mecânicos. Ninguém precisa fazer nada por vários anos. Mas pode a coordenação de longo prazo necessária para manter esta instalação solenemente quixotesca se estender por 600 anos para um grand finale em 2640 (SE o órgão, a igreja e o planeta sobreviverem)?
A questão parece quase irrelevante, já que ninguém vivo pode respondê-la com qualquer grau de certeza. Depende se as gerações futuras veem a “As Slow as Possible” como um fenômeno que deve continuar existindo.
No entanto, também levanta a questão de saber se esse tipo de arte de resistência é realmente significativo ou se é apenas um espetáculo. Alguns podem argumentar que o verdadeiro significado e propósito da arte são perdidos quando ela é estendida a um grau tão extremo que se torna quase impossível de compreender ou se envolver de maneira significativa. Além disso, levanta preocupações éticas sobre o uso de recursos e a preservação da arte em um projeto de longo prazo.
Apesar das questões e preocupações levantadas pela apresentação, ela ainda atrai multidões a cada poucos anos quando um acorde muda, como aconteceu recentemente em 2020, 19 anos após o início da apresentação.
E mesmo que o órgão não dure até 2640 e a apresentação não chegue ao fim pretendido, ele ainda oferece uma perspectiva única sobre a arte e o papel que ela pode desempenhar na formação de nossa relação com o tempo.
O fato de existir levanta questões e discussões sobre as possibilidades e limitações da arte e o papel que ela pode desempenhar na sociedade.
Editor-chefe do portal Mistérios do Mundo desde 2011. Adoro viajar, curtir uma boa música e leitura. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.