Ao longo da história da humanidade, foram muitos os momentos em que enfrentamos massacres, genocídios e episódios que mancharam para sempre certas épocas. Os exemplos mais frequentes são o holocausto provocado pelo governo nazista na Alemanha, em 1941, os abusos do governo autoritário do Camboja durante o Khmer Vermelho, entre outros. No entanto, o que alguns não sabem é que o Brasil também tem as suas páginas macabras. Infelizmente, parece que não aprendemos tanto assim com nossos acontecimentos mais tristes, tanto que normalmente não ouvimos falar sobre alguns deles nos livros de história.
O Hospital Colônia, fundado em 1903 e localizado em Barbacena, no interior de Minas Gerais, foi palco para cenas dignas de filmes de terror. Com 16 pavilhões separados, este hospital privado foi fundado com o intuito de atender pacientes com tuberculose, mas em 1930, depois de falir, acabou sendo transformado em um manicômio. No entanto, ao contrário dos hospitais psiquiátricos modernos, o Hospital Colônia não tinha o mínimo interesse em recuperar pessoas realmente enfermas. Em vez de atender pessoas doentes, o local recebia todo e qualquer tipo de indivíduo que por algum motivo “não se encaixava na sociedade”. Neste grupo você pode incluir mães solteiras, pessoas sem condições de se manter sozinhas, moradores de rua, homossexuais, portadores de necessidades especiais, vítimas de crimes bárbaros (como o estupro) e inimigos políticos. Além disso, há relatos de que alguns pessoas eram levadas ao “hospital” apenas por conta da cor de sua pele. Somados a essas pessoas, estavam também homens “afeminados” e mulheres consideradas de “temperamento forte”, que se recusavam a casar ou seguir a vida planejada por seus pais.

Isso fez com que em certo ponto 70% dos internados no Hospital Colônia não tivessem nenhum tipo de diagnóstico envolvendo transtorno psicológico. Muitos eram mandados apenas por desavenças com pessoas “importantes”, com influência dentro do hospital.
De tempos em tempos, trens lotados desembarcavam nas dependências do Colônia, trazendo pessoas que, uma vez lá dentro, praticamente deixavam de existir para o mundo exterior. Lá, mulheres e homens eram separados, tinham seus pertences confiscados e muitos inclusive tinham seus nomes trocados pelos funcionários, que inventavam apelidos para os “pacientes”. Apesar de ter sido planejado para abrigar no máximo 200 pessoas, o hospital chegou a ter mais de 5000 pessoas ao mesmo tempo em suas dependências.

Por mais de 30 anos, os internos do Hospital Colônia foram submetidos a tratamentos desumanos, tortura, privação alimentar, privação de sono, espancamentos, estupros, entre outros absurdos. De acordo com fontes da época, uma boa parte da renda gerada pelo Hospital Colônia vinha da exploração da mão de obra dos internos.
Os funcionários do hospital seguiam uma rígida rotina de terapias de choque, exposição desnecessária ao frio e uso de duchas escocesas no meio da noite, sem nenhum motivo. Tudo isso com o objetivo de tentar “recuperar” as pessoas do que consideravam ser um quadro de loucura. Muitos, quando não morriam pelos espancamentos e pela tortura, acabavam perdendo a vida para a hipotermia. Ainda, de acordo com relatos, mais de 1800 corpos foram vendidos para 17 faculdades ao redor do Brasil, onde eram utilizados em aulas de anatomia.
Fezes e urina eram encontradas espalhadas ao monte pelas dependências do hospital, uma vez que faltavam aos internos as mínimas condições de saneamento. Além disso, para evitar abusos sexuais, muitas internas cobriam o corpo com fezes em uma tentativa de afastar os funcionários.

Foi somente em 1961, quando o fotógrafo Luiz Alfredo conseguiu registrar os absurdos do Hospital Colônia, que a história começou a chegar até os olhos de todos. Mesmo assim, foram necessários mais 19 anos para que o hospital enfim fosse fechado.
Depois do encerramento, em 1980, o local onde costumava ficar o Hospital Colônia recebeu o “Museu da Loucura”, aberto em 1996. Infelizmente, aqueles que conseguiram sobreviver às barbáries do hospital nunca tiveram seus danos realmente reparados, bem como aquelas famílias que para sempre tiveram suas vidas marcadas pelos absurdos cometidos pelo próprio governo da época.
Em 2016, o filme intitulado “Holocausto Brasileiro” trouxe à tona diversos detalhes e revelações inéditas sobre os absurdos cometidos no hospital.