A beleza é uma questão totalmente subjetiva, e é difícil sair apontando dedos e dizendo quem é bonito e quem é, de fato, feio. De qualquer forma, algumas pessoas acabam sofrendo com diversos tipos de discriminação por conta de suas características físicas, e esse foi o caso de Mary Ann Bevan, mulher que entrou para a história como sendo, supostamente, “a mulher mais feia do mundo”. Mas nem sempre ela foi assim.

Nascida em Londres, durante o século 19, Mary Ann Bevan era bastante parecida com as outras meninas da sua idade ao longo da sua juventude. E segundo alguns relatos, era inclusive considerada atraente. As coisas mudaram quando ela já era adulta, e mãe de vários filhos. Infelizmente, Mary Ann passou a ser afetada por uma rara doença, que causou modificações severas em várias partes do seu corpo.
Com o tempo, ela estava praticamente desfigurada em relação à sua aparência original. Obviamente, podemos imaginar que a condição causou muita tristeza para ela, mas a mulher não se deixou abater completamente, e acabou optando por usar a sua aparência “fora do comum” para ganhar dinheiro. E foi assim que ela se tornou famosa até os dias de hoje.
Antes da fama
Mary Ann Webster nasceu em 20 de dezembro de 1874 em uma grande família de Londres. Durante toda a sua infância ela não chamou nenhuma atenção negativa por conta da sua aparência, e era inclusive bastante parecida com suas irmãs. Ainda jovem, concluiu um curso de enfermagem, e passou a atuar no ramo da saúde. Em 1903, casou-se com o fazendeiro Thomas Bevan, do condado de Kent, ainda na Inglaterra.
Junto com ele, Mary Ann constituiu uma família feliz, que logo resultou no nascimento de quatro crianças. Infelizmente, Thomas morreu de forma repentina em 1914, deixando a mulher com os quatro filhos – o que obviamente a colocou em uma situação muito difícil, seja pelos preconceitos da época como pelo fato da sua renda ser pequena para sustentar quatro bocas.
E para piorar a sua situação, pouco tempo depois da morte do seu marido, Mary Ann passou a apresentar sinais da acromegalia, um distúrbio que provoca a produção acima do normal de hormônios do crescimento. Trata-se de uma doença extremamente rara, que hoje em dia pode ser detectada de forma precoce… Mas naquela época a história era outra. Sem tanta tecnologia disponível, Mary Ann não tinha como tratar a doença, e em pouco tempo a sua aparência foi profundamente afetada.
Como resultado da sua condição, suas mãos e seus pés ficaram fora da proporção normal, sua testa e mandíbula tornaram-se mais salientes e seu nariz ficou visivelmente maior. A mudança de aparência fez com que a mulher enfrentasse uma maior dificuldade na hora de procurar emprego, e por isso ela precisou recorrer a trabalhos informais.

De acordo com o que conta a sua história, um fazendeiro da região teria dito a ela que “tudo o que ela poderia competir era pelo título de mulher mais feia”. E aparentemente ela levou esse conselho a sério, já que em certa feita ela participou de um concurso com mais de 250 participantes, que tinha como objetivo justamente eleger a mulher mais feia da região. E ela ganhou com folga.
E o sucesso de Mary Ann nesta categoria, digamos, infame, logo chamou a atenção de vários donos de shows itinerantes que eram conhecidos como “Shows de Horrores”. Estas apresentações reuniam pessoas do mundo inteiro com algum tipo de característica única e chamativa, quase sempre expondo esses indivíduos ao ridículo em troca de dinheiro. E foi assim que Mary Ann Bevan começou a rodar pelas Ilhas Britânicas fazendo diversas apresentações.
Sucesso e reconhecimento

Em 1920, Mary Ann respondeu a um anúncio encontrado em um jornal londrino que procurava “mulheres feias, porém não repulsivas, mutiladas ou desfiguradas”. O anúncio prometia um bom pagamento, e pedia por fotos recentes das candidatas.
E assim que ela enviou suas fotos, ela recebeu um convite para participar de um espetáculo na Coney Island’s Dreamland, que era na época um dos maiores locais do mundo para artistas de espetáculos “secundários”. Quem decidiu chamá-la foi William H. Reynolds, então senador, junto com o promotor de eventos Samuel W. Gumpertz, uma das figuras mais prolíficas da história dos “shows de horrores”, que mais tarde trabalhou com o famoso Harry Houdini.
Durante muitos anos, Mary Ann Bevan atraiu multidões, cobrando ingressos, vendendo cartões postais com suas fotos e se apresentando com várias companhias diferentes. Graças ao seu talento inesperado para impressionar às massas, ela conseguiu dinheiro suficiente para custear a criação dos filhos, o que era o seu principal objetivo.
Estima-se que, em apenas dois anos de apresentações em Nova Iorque, Mary Ann tenha ganho algo em torno de 20 mil libras esterlinas. Trazendo para valores atuais, isso significa mais de 8 milhões de reais.
Bevan trabalhou em Coney Island por muitos anos, até falecer aos 59 anos de idade, em 26 de dezembro de 1933. Por muito tempo, ela permaneceu sendo uma figura conhecida apenas entre os mais aficionados pela história dos shows de horrores, até que, no início dos anos 2000, sua imagem começou a ser utilizada de forma jocosa em uma cartão da Hallmark, companhia americana conhecida por fabricar cartões e presentes.
Obviamente, muitas pessoas criticaram a empresa por utilizar a imagem de Mary Ann Bevan, e os cartões tiveram que ser tirados do mercado. Mas foi o suficiente para que, desde então, a história desta mulher ganhasse conhecimento internacional.