A peste-negra, ocorrida em meados de 1340 e 1350, representou uma das piores epidemias da história da humanidade, tendo sido responsável pela morte de mais de 350 milhões de indivíduos. Causada pela bactéria Yersinia pestis, a doença se espalha por meio de pragas como os ratos-pretos e pulgas, que eram bastante comuns nas cidades europeias da época principalmente por conta da falta de saneamento básico. Estima-se que em Portugal, por exemplo, a peste tenha dizimado praticamente metade da população, levando o país a um caos gigantesco.
Por conta da falta de desenvolvimento técnico, científico e social das populações da época, a humanidade simplesmente não soube lidar com a doença da melhor forma possível, o que definitivamente contribuiu para que este episódio ficasse marcado para sempre como um dos maiores golpes sofridos pela existência humana desde o início de nossa vida em sociedade.
Durante os 1340, por exemplo, quando a doença começou a dar as caras na Europa, grande parte da população acreditava que ela era transmitida apenas para pecadores e pessoas que possuíam débitos com a Igreja Católica, mostrando a face extremamente religiosa da sociedade da época. Muitos acreditavam, por exemplo, que mantendo uma rotina de orações e tendo uma vida religiosa mais ativa, estariam mantendo longe os horrores da peste negra. Outras crenças equivocadas da época também davam à população uma falsa sensação de segurança. Muitas pessoas pensavam, por exemplo, que as doenças eram transmitidas por conta do mau cheiro, e por isso costumavam manter o máximo possível de flores em suas residências e onde quer que fossem.
Entre os sintomas da peste negra estavam as dores, tosses constantes e uma febre altíssima. Posteriormente, apareciam espécies de bulbos pelo corpo, provocados pelo inchaço nos gânglios. Por conta da falta de conhecimento médico da época, os pacientes quase nunca recebiam tratamento adequado, independente da classe social, e por isso acabavam morrendo em questão de dias.
Para se ter uma ideia, os “métodos de tratamento” (se é que podemos chamar assim) para a doença na época consistiam na prática de sangria, bem como a aplicação de sanguessugas para tentar “equilibrar os ânimos” do corpo. A quarentena também era uma prática comum. Ainda que ela não oferecesse nenhum tipo de melhora para o paciente, ela pelo menos evitava que a doença se espalhasse ainda mais. Esses médicos nem sempre trabalhavam de forma “passiva”, esperando que os pacientes fossem até eles. Na verdade, muitos eram vistos com as famosas vestes que assemelhavam à aparência de um pássaros. Essas roupas eram fabricadas com o intuito de evitar ao máximo o contato físico dos médicos com os pacientes. Além disso, as máscaras eram normalmente preenchidas com aromas de lavanda, por conta da crença já citada anteriormente, de que os maus odores podiam ser responsáveis pela transmissão de doenças.
Médicos da peste negra. Shutterstock
O grande número de mortos fez crescer de forma imensa a demanda de mão de obra em cemitérios. Com tantos corpos surgindo dia após dia, alguém precisava fazer o trabalho sujo de enterrar todos os cadáveres. Neste momento, foram principalmente os menos favorecidos financeiramente que acabaram ocupando estes cargos, e obviamente entrando muito mais em contato com a doença. Imagine que o trabalho consistia em recolher das ruas e enterrar pilhas e mais pilhas de corpos, muitas vezes já em estado de decomposição. Nem todos os doentes tinham uma cama para deitar, e por isso as cidades da época eram realmente assustadoras, com centenas de corpos pelo chão e cada vez mais sujeira espalhada por todos os lados.
Esses trabalhadores muitas vezes desenvolviam a doença e continuavam trabalhando por dias e dias, já que os primeiros sintomas podiam não ser tão conclusivos e aparentes. A partir de certo ponto, no entanto, a doença fazia com que a pessoa não conseguisse mais sequer sair da cama, e normalmente nesse ponto é que apareciam os bulbos. A partir daí, os pacientes só podiam rezar incessantemente por algum tipo de milagre, que normalmente não vinha.
Pouco a pouco, depois de perder cerca de um terço da população mundial, a humanidade começou a resistir à peste negra. Acredita-se que a implementação de quarentas tenha sido crucial para o retrocesso da doença, junto com a adoção de hábitos mais saudáveis de higiene pessoal.
Por essas e outras que hoje em dia o saneamento básico é uma das principais preocupações de qualquer cidade, em qualquer país desenvolvido.
Leonardo Ambrosio tem 26 anos, é jornalista, vive em Capão da Canoa/RS e trabalha como redator em diversos projetos envolvendo ciências, tecnologia e curiosidades desde 2014.