Cinto de castidade: a verdade sobre o polêmico acessório medieval

por Lucas Rabello
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Você já ouviu falar de cintos de castidade? Esses dispositivos, frequentemente retratados em filmes e livros como roupas íntimas de metal usadas por mulheres na Idade Média para impedir a atividade sexual, há muito capturam a imaginação do público. Mas qual é a verdadeira história por trás desses infames artefatos?

Primeiramente, é importante entender que a ideia dos cintos de castidade como uma prática medieval generalizada é em grande parte um mito. Apesar de sua frequente aparição na cultura popular, há muito pouca evidência de que esses dispositivos foram realmente usados durante a Idade Média.

O conceito de cintos de castidade apareceu pela primeira vez por escrito em 1405, em um tratado do engenheiro e artista alemão Konrad Kyeser. No entanto, é crucial notar que a menção de Kyeser aos cintos de castidade era mais uma piada imaginativa do que um relato histórico sério. A partir daí, a ideia se popularizou como um tema frequente de sátira e humor.

Você pode se perguntar: “Se os cintos de castidade eram tão conhecidos, por que não são mencionados em textos medievais?” Essa é exatamente a questão que intrigou os historiadores. Albrecht Classen, um especialista no assunto, aponta que nenhum documento histórico sério da época – incluindo textos religiosos, escritos legais ou literatura médica – faz qualquer menção a cintos de castidade. Essa ausência é uma forte indicação de que eles não eram uma parte real da vida medieval.

Vamos considerar a praticidade desses dispositivos por um momento. Os curadores do Museu Semmelweis em Budapeste levantam um ponto importante: “Como esses objetos ásperos e duros poderiam ser usados na virilha sem causar feridas cuticulares profundas e gradualmente mais infectadas em poucos dias?”

Lesley Smith, uma historiadora especializada no final do século XVI, acrescenta outra camada a essa desmistificação. Ela diz: “Viajei para o exterior e olhei coleções de arte e, até agora, não vi um cinto de castidade que possa ser comprovado como de origem medieval.” Essa falta de evidências físicas reforça ainda mais a ideia de que os cintos de castidade são mais mito do que fato histórico.

Então, por que continuamos a acreditar na existência de cintos de castidade medievais? Isso pode ter algo a ver com a forma como vemos o passado. Classen sugere que acreditar em cintos de castidade nos permite ver o período medieval como menos civilizado do que o nosso próprio tempo. É uma forma de dizer: “Olha quanto progredimos!” Esse desejo de ver o passado como mais bárbaro que o presente é semelhante à crença equivocada de que as pessoas medievais pensavam que a Terra era plana.

Embora o cinto de castidade medieval possa ser um mito, o conceito encontrou nova vida nos tempos modernos. Em 2013, uma empresa chamada AR Wear lançou uma campanha de financiamento coletivo para o que eles chamaram de “uma linha de roupas oferecendo proteção vestível para quando as coisas dão errado”. Essas roupas, projetadas para serem difíceis de remover por um agressor, foram criticadas por colocar a responsabilidade de prevenir a agressão sexual nas potenciais vítimas, em vez de abordar as causas fundamentais desses crimes.

Embora a empresa tenha atingido sua meta de financiamento e criado um protótipo, seus produtos não estão atualmente disponíveis para compra.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.