Um estudo publicado no periódico Environmental Science & Technology, da ACS Publications, lançou novas luzes sobre o aumento preocupante de casos de câncer em todo o mundo. A pesquisa, conduzida por cientistas da Califórnia, sugere que a exposição a microplásticos pode ser um fator significativo no crescimento da incidência de vários tipos de câncer, especialmente o câncer de cólon e de pulmão.
A investigação ocorre em um momento crítico, já que, em 2024, cerca de dois milhões de novos casos de câncer foram diagnosticados nos Estados Unidos, um aumento considerável em comparação com anos anteriores. Embora fatores de risco tradicionais, como genética, dieta e estilo de vida, expliquem boa parte dos casos, eles não são suficientes para justificar todas as ocorrências da doença.
A equipe de pesquisa identificou várias conexões preocupantes entre a exposição aos microplásticos e a saúde humana. “Concluímos que a exposição a microplásticos é ‘suspeita’ de impactar adversamente o cólon e o intestino delgado em humanos”, afirma o estudo. Os achados vão além do sistema digestivo, sugerindo que essas minúsculas partículas plásticas podem comprometer o sistema imunológico e desencadear inflamações crônicas.
A pesquisa também revelou implicações adicionais para a saúde, incluindo possíveis impactos na reprodução. Os pesquisadores encontraram indícios de que os microplásticos podem afetar a fertilidade masculina, reduzindo a contagem de espermatozoides, e influenciar o sistema reprodutivo feminino, afetando os ovários e a placenta.
A natureza onipresente dos microplásticos representa um desafio particular. Como observado na pesquisa, essas partículas foram detectadas em diversos ambientes, desde grandes centros urbanos até os locais mais remotos do planeta. “Elas foram encontradas em regiões remotas e intocadas, incluindo a Antártida, fossas oceânicas profundas e o gelo marinho do Ártico”, destacaram os pesquisadores.
A professora Tracey J. Woodruff, especialista em obstetrícia, ginecologia e ciências reprodutivas, comparou os microplásticos a outros perigos ambientais conhecidos. “Esses microplásticos são basicamente poluição particulada do ar, e sabemos que esse tipo de poluição é prejudicial”, explicou.
A escala da produção de plástico agrava ainda mais essas preocupações. Estatísticas recentes mostram que, no último ano, cerca de 460 milhões de toneladas métricas de plástico foram produzidas, e as projeções indicam que esse número pode chegar a 1,1 bilhão de toneladas até 2050.
Nicholas Chartres, autor principal do estudo, destacou a necessidade de ações imediatas: “Instamos as agências reguladoras e os líderes políticos a considerarem as crescentes evidências dos danos à saúde causados pelos microplásticos, incluindo câncer de cólon e de pulmão.”
A pesquisa também documentou a presença de microplásticos em diversos tecidos e fluidos humanos, como placenta, leite materno e fígado. Devido ao seu tamanho reduzido, essas partículas conseguem entrar e se distribuir facilmente pelo corpo humano, potencialmente causando danos mais abrangentes do que partículas plásticas maiores.
As descobertas relacionadas à saúde respiratória são particularmente preocupantes, já que os pesquisadores observaram que partículas de microplásticos no ar podem desencadear inflamações nas vias respiratórias, aumentando o risco de desenvolvimento de câncer de pulmão.