Em um estudo publicado na revista Frontiers in Aging Neuroscience, pesquisadores fizeram uma descoberta surpreendente sobre a atividade cerebral durante a morte, desafiando o entendimento prévio de como o cérebro funciona em seus momentos finais.
A oportunidade de pesquisa surgiu quando cientistas da Universidade de Tartu, na Estônia, monitoravam um paciente com epilepsia por meio de eletroencefalografia contínua (EEG). Durante o período de observação, o paciente sofreu um ataque cardíaco inesperado, o que deu aos pesquisadores uma rara chance de estudar a atividade cerebral no processo de morrer.
O Dr. Ajmal Zemmar, neurocirurgião da Universidade de Louisville, nos Estados Unidos, que liderou o estudo, explicou: “Medimos 900 segundos de atividade cerebral ao redor do momento da morte e focamos especificamente nos 30 segundos antes e depois de o coração parar de bater.”
A equipe observou mudanças significativas em vários padrões de ondas cerebrais, incluindo oscilações gama, delta, teta, alfa e beta, imediatamente antes e depois de o coração parar de funcionar. Esses padrões apresentaram semelhanças notáveis com aqueles comumente observados durante sonhos, evocação de memórias e estados de meditação.
As descobertas fornecem uma base científica para entender as experiências de quase-morte e o fenômeno frequentemente relatado de a vida “passar diante dos olhos” nos momentos finais. As oscilações gama, que estão associadas à concentração, aos sonhos e ao processamento de memórias, estavam particularmente ativas durante esse período.
“Por meio da geração de oscilações envolvidas na recuperação de memórias, o cérebro pode estar fazendo uma última evocação de eventos importantes da vida pouco antes de morrermos, semelhante ao que é relatado em experiências de quase-morte”, afirmou Zemmar.
A pesquisa tem implicações que vão além do entendimento da morte em si. Como o Dr. Zemmar observou: “Essas descobertas desafiam nosso entendimento de quando exatamente a vida termina e levantam questões importantes subsequentes, como aquelas relacionadas ao momento adequado para a doação de órgãos.”
Falando de sua experiência como neurocirurgião, Zemmar compartilhou: “É indescritivelmente difícil dar a notícia da morte para familiares abalados.” Ele acrescentou que a pesquisa sugere que, durante esses momentos finais, “embora nossos entes queridos estejam com os olhos fechados e prontos para descansar, seus cérebros podem estar revivendo alguns dos momentos mais bonitos que experimentaram em suas vidas.”
Este estudo marca a primeira análise documentada de um cérebro humano em processo de morte, oferecendo insights sem precedentes sobre os processos neurais que ocorrem durante esse momento. A pesquisa continua a gerar discussões na comunidade médica sobre a natureza da morte e da consciência, ao mesmo tempo que levanta novas questões sobre o momento exato em que a vida realmente chega ao fim.