Em uma descoberta inédita, pesquisadores da Alemanha e da Grécia encontraram um novo sinal presente no cérebro humano, que pode indicar que nosso órgão vital é ainda mais complexo do que imaginamos.
A pesquisa foi realizada no início do ano passado, porém seus resultados vieram à tona apenas no último mês. Neles, os pesquisadores relatam um mecanismo presente nas células corticais externas do cérebro, capaz de produzir o que eles chamam de “sinal graduado”. Teoricamente, esses sinais fornecem aos neurônios uma outra forma para realizar suas funções lógicas.
De acordo com os cientistas, a descoberta deste novo mecanismo essencialmente pode significar que nossos cérebros são máquinas muito mais potentes e complexas do que a ciência atualmente imagina. Comparar o cérebro humano com um computador super avançado é uma tendênicia que não vem de hoje, apesar de tratar-se de uma teoria que logicamente possui as suas limitações. Apesar de tanto o cérebro quanto computadores utilizarem voltagens elétricas para realizar suas operações, o fluxo dessas informações nas máquinas são muito mais simples.
No cérebro, as coisas são muito mais complexas.
No novo estudo, os pesquisadores mediram a atividade elétrica em seções de tecido removidas cirurgicamente de pacientes com epilepsia. Os tecidos foram analisados a partir do emprego de uma técnica conhecida como microscopia fluorescente. Os testes mostraram que algumas células individuais do córtex não usavam apenas íons de sódio, como já era de conhecimento dos cientistas, mas também o cálcio. Essa combinação de íons provocou ondas que até então nunca haviam sido observadas em laboratório, conhecidas como “potenciais de ação dendrítica mediados por cálcio”, nome que pode ser encurtado para a simpática sigla ‘dCaPSs’.
Voltando para a nossa comparação entre computadores e cérebros, nas máquinas as informações e operações são processadas a partir de um fluxo de elétrons por meio de um transistor. Já no nosso cérebro, o sinal ocorre a partir de uma onda de abertura e fechamento de canais que trocam partículas carregadas, como o sódio, o cloreto e o potássio. Esses pulsos de íons é que são chamados de “potencial de ação”.
E enquanto os computadores usam transistores para ler as informações, os neurônios interpretam as mensagens de forma química, no final de ramos chamados de dendritos. Essas estruturas são cruciais para o entendimento do nosso sistema nervoso. Caso um potencial de ação for significativo o suficiente, ele pode ser passado para outros nervos, bloqueando ou transmitindo a mensagem.
Mas o que essa descoberta pode significar?
Bem, de volta ao mundo real, e saindo um pouco da teoria e dos termos técnicos, a comunidade científica está particularmente interessada na descoberta deste novo potencial de ação por cálcio. Os pesquisadores agora querem entender como os dCaAPs se comportam em neurônios inteiros, bem como em um sistema vivo, uma vez que as pesquisas foram realizadas em tecidos. Além disso, eles querem entender se isso é uma exclusividade dos seres humanos, ou se alguma outra forma de vida também já desenvolveu algo semelhante.
Por fim, mas não menos importante, os cientistas podem usar essa descoberta para se inspirar no desenvolvimento de novas tecnologias dentro do campo da informática. Afinal de contas, no fundo no fundo, o cérebro é a máquina mais complexa e intrigante que nós já conhecemos.
Leonardo Ambrosio tem 26 anos, é jornalista, vive em Capão da Canoa/RS e trabalha como redator em diversos projetos envolvendo ciências, tecnologia e curiosidades desde 2014.