Uma iniciativa pioneira para combater a perda de gelo no Ártico surgiu à medida que cientistas correm contra o tempo para enfrentar o rápido declínio das calotas polares. A região do Ártico tem sofrido uma redução preocupante na cobertura de gelo, diminuindo a uma taxa de 12,2% por década, segundo dados da NASA.
A startup britânica Real Ice desenvolveu uma abordagem inovadora para restaurar o gelo no Ártico, com testes realizados em Cambridge Bay, no Canadá. O método da empresa envolve o uso de drones subaquáticos especializados, equipados com sistemas de energia à base de células de combustível de hidrogênio, que criam buracos no gelo existente. Através desses buracos, a água do mar é bombeada para a superfície, onde congela novamente.
Testes iniciais realizados em janeiro de 2024 mostraram resultados promissores, com a formação de aproximadamente 10 centímetros de novo gelo. Shaun Fitzgerald, diretor do Centro de Reparação Climática da Universidade de Cambridge, compartilhou sua opinião: “Estou otimista, mas precisamos de mais experimentos e mais dados.”
O processo técnico depende de drones subaquáticos sofisticados que utilizam brocas aquecidas para criar pontos de acesso no gelo a partir de baixo. Andrea Ceccolini, co-CEO da Real Ice, destacou que o uso desses drones será cuidadosamente planejado para evitar perturbações nas rotas de migração animal e nas rotas de navegação.
No entanto, a comunidade científica está dividida quanto à eficácia e aos riscos potenciais dessa intervenção. Liz Bagshaw, professora associada em mudanças ambientais polares na Universidade de Bristol, expressou fortes ressalvas sobre a abordagem: “Tais intervenções são moralmente questionáveis na melhor das hipóteses e, na pior, eticamente irresponsáveis.”
Jennifer Francis, cientista sênior do Woodwell Climate Research Center, também levantou dúvidas sobre o projeto, questionando se ele realmente terá impacto significativo nos níveis de gelo do Ártico. O ceticismo se estende às potenciais consequências ambientais, especialmente em relação ao ecossistema marinho.
Um relatório de 2024, intitulado *”Protegendo as regiões polares de geoengenharias perigosas”*, destacou os riscos de graves danos ambientais provenientes de intervenções desse tipo. O estudo defende que o combate às mudanças climáticas seja feito por meio de uma rápida e profunda descarbonização, em vez de intervenções diretas em ecossistemas polares frágeis.
O contexto mais amplo dessa iniciativa está ligado a previsões alarmantes que indicam que o Ártico pode ficar sem gelo até o início da década de 2030. As implicações da perda de gelo no Ártico vão muito além da região polar, contribuindo para desafios globais, como o aumento da frequência de secas, tempestades mais intensas, elevação do nível do mar e a expansão do alcance de doenças como a malária.
O debate em curso sobre este projeto de restauração do gelo ilustra os complexos desafios enfrentados por cientistas e especialistas ambientais na luta contra as mudanças climáticas. Embora soluções inovadoras continuem a surgir, questões sobre sua viabilidade a longo prazo e seu impacto potencial no meio ambiente permanecem no centro das discussões científicas.