Até hoje a ciência não tem como medir os níveis de bondade de uma pessoa, determinando se ela é uma boa ou uma má pessoa para a sociedade. Mas, felizmente, os cientistas estão ficando cada vez melhores em descobrir aqueles que gostam de machucar os outros em benefício próprio.
Um campo relativamente novo na pesquisa de personalidade estuda traços “misantrópicos” – uma característica que leva alguém a ferir os outros ao redor para seu próprio benefício. Hoje, a psicologia moderna estabeleceu uma ” tríade sombria ” de traços de personalidade prejudiciais para a sociedade: o narcisismo, a psicopatia (a falta total de empatia) e o maquiavelismo (a tendência de manipular os outros).

Qualquer uma dessas características faz a pessoa criar grandes problemas e traumas na convivência com outras pessoas. Agora, alguns pesquisadores sugerem que existe um quarto traço que deve se juntar à tríade: o sadismo.
Entende-se por sádico aquele que sente prazer em humilhar ou causar dor a alguém. E, apesar de sermos familiarizados com esse termo sobretudo nos cinemas, onde grandes vilões apresentam essa característica, a ideia de sadismo é bastante nova nos ambientes clínicos. Isso em parte porque todo o estudo da personalidade, mais especificamente dos traços “sombrios” de personalidade, é bastante recente e subdesenvolvido. Além disso, traços como sadismo, junto com o resto da tríade sombria, são extremamente difíceis de serem diagnosticados com precisão clínica.
No entanto, alguns estudos recentes realizados nos últimos anos mostram que o sadismo se correlaciona fortemente com o comportamento cruel, como por exemplo o bullying. Sendo assim, com base no conhecimento que se tem hoje sobre o assunto, alguns pesquisadores desenvolveram um teste rigoroso de sadismo, que consiste em uma lista de perguntas destinadas a cutucar o coração de uma personalidade sádica.

A primeira versão tinha 20 perguntas e os participantes deveriam responder em uma escala o quanto concordavam ou discordavam dessas afirmações, usando uma escala de um a cinco, sendo .o número um “discordo totalmente” e o número cinco “concordo totalmente”.
Então, quando 199 alunos de graduação fizeram o teste, os resultados foram promissores, mas ainda assim inconclusivos.
Os pesquisadores descobriram que o teste era bom para medir o sadismo e os traços da tríade sombria e sugeria que havia padrões específicos e interpretáveis nas personalidades misantrópicas das pessoas. Mas os resultados não geraram o resultado esperado, que era de identificar o sadismo como algo separado da psicopatia e, por isso, eliminaram algumas perguntas que poderiam ter causado controvérsias e reformularam as questões.
São elas:
1 – Zombo de pessoas para que elas saibam que estou no controle.
2 – Não me canso de tocar e empurrar as pessoas.
3 – Eu machucaria alguém se isso me deixasse no controle.
4 – Quando zombo de alguém, é engraçado vê-lo ficar chateado.
5 – Ser mau com as outras pessoas pode ser algo emocionante.
6 – Tenho prazer em zombar das pessoas na frente de seus amigos.
7 – Ver as pessoas se metendo em brigas me deixa animado.
8 – Eu penso em machucar as pessoas que me irritam.
9 – Eu não machucaria ninguém de propósito, mesmo que não gostasse deles.

Com essas perguntas, os 202 alunos participantes obtiveram resultados mais específicos: apesar de ainda correlacionado com outros traços da tríade sombria como psicopatia, como esperado, fez um trabalho melhor em mostrar que o sadismo é uma categoria separada.
Uma curiosidade é que em ambos os testes, os homens pontuaram muito mais do que as mulheres nas características negativas, porém há muito mais trabalho a ser feito: os pesquisadores estão desenvolvendo um sistema de Avaliação da Personalidade Sádica (ASP) a fim de aprimorarem ainda mais as análises, para que desempenhem um importante papel clínico em diagnósticos futuros.
Esses resultados foram publicados na revista Personality and Individual Differences.