Em uma descoberta revolucionária, pesquisadores encontraram dois conjuntos de pegadas de hominíneos no Quênia, que datam de aproximadamente 1,5 milhão de anos. As pegadas, localizadas nas margens de um antigo lago, fornecem evidências inéditas de que nossos ancestrais estiveram no mesmo local, possivelmente com poucas horas de diferença.
Os resultados da pesquisa, publicados na revista *Science*, representam o primeiro registro documentado de pegadas contemporâneas de hominíneos de um período tão antigo. Utilizando tecnologia avançada de imagem 3D, os cientistas conseguiram distinguir os dois conjuntos de pegadas, oferecendo uma visão única sobre os movimentos de nossos ancestrais distantes.
“Pegadas fósseis são emocionantes porque fornecem instantâneos vívidos que trazem nossos parentes fósseis à vida”, disse Kevin Hatala, professor associado de biologia na Universidade de Chatham, na Pensilvânia. “Com esse tipo de dado, podemos ver como indivíduos vivos, milhões de anos atrás, se movimentavam em seus ambientes e, potencialmente, interagiam uns com os outros ou até com outros animais. Isso é algo que não conseguimos observar apenas com ossos ou ferramentas de pedra.”
O local da descoberta, próximo ao Lago Turkana, revelou o que os cientistas chamam de “fósseis de traço” – evidências preservadas de atividade biológica, incluindo pegadas, ninhos e tocas. Craig Feibel, da Universidade Rutgers, destacou que, embora não seja possível provar com certeza que os dois hominíneos se encontraram, as evidências sugerem fortemente que eles passaram pela mesma área com poucas horas de diferença.
A equipe de pesquisa utilizou técnicas sofisticadas de análise 3D para examinar e diferenciar os conjuntos de pegadas. Rebecca Ferrell, diretora de programa da Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos, destacou a importância da abordagem tecnológica: “A equipe utilizou tecnologias de ponta em imagem 3D para criar uma maneira completamente nova de analisar pegadas, o que nos ajuda a entender a evolução humana e os papéis da cooperação e competição na formação da nossa jornada evolutiva.”
Diferentemente de fósseis convencionais, como ossos, que podem ser escavados e transportados, essas pegadas fósseis precisam permanecer em seu local original. Isso as torna particularmente valiosas para compreender o contexto exato do comportamento dos hominíneos antigos. Como Feibel observou: “Isso prova, sem sombra de dúvida, que não apenas um, mas dois hominíneos diferentes caminharam sobre a mesma superfície, literalmente com poucas horas de diferença.”
A descoberta oferece evidências concretas de múltiplos hominíneos ocupando o mesmo espaço no mesmo período, proporcionando novos insights sobre as dinâmicas sociais e padrões de movimento de nossos ancestrais antigos. Embora pesquisas anteriores já tenham sugerido a coexistência de diferentes grupos de hominíneos, esta é a primeira prova física concreta de uma proximidade tão grande no tempo e no espaço.
Essas pegadas ampliam nossa compreensão sobre o comportamento e as interações sociais dos primeiros humanos, acrescentando uma nova dimensão ao registro arqueológico, que geralmente depende de ossos e ferramentas. A preservação dessas marcas permite que os cientistas estudem os movimentos e atividades reais de nossos ancestrais, fornecendo evidências diretas de sua presença e comportamento no ambiente antigo.