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Cerca de 80 mil pessoas vivem nesta cidade russa que durante 49 anos foi mantida em segredo

Cerca de 80 mil pessoas vivem nesta cidade russa que durante 49 anos foi mantida em segredo

Quando falamos em desastres nucleares envolvendo a antiga União Soviética, é quase natural pensarmos em Chernobyl. No entanto, o país também foi palco para diversos outros escândalos e desastres envolvendo a produção de armas químicas e desenvolvimento da tecnologia nuclear. [5 coisas estranhas que você provavelmente não sabe sobre Chernobyl]

Foi na antiga União Soviética que surgiu uma das primeiras cidades criadas com o propósito de desenvolver um complexo de produção de plutônio, componente essencial na tecnologia das armas nucleares. A “Cidade-40”, como ficou conhecida, foi escondida de todos os mapas internacionais e nacionais até os anos 1990, e sequer havia indicações na URSS de como chegar até lá. Oficialmente, seus habitantes não eram registrados, e podemos dizer que de forma geral a cidade não existia para nenhum outro fim que não o da produção do plutônio.

A cidade começou a ser construída logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, e para que ela pudesse sair do papel, a URSS usou mão de obra proveniente das chamadas ‘Gulags’, prisões de trabalho forçados onde eram mantidos presos políticos e pessoas que se colocavam contra o regime soviético, além de outros condenados. Os prisioneiros receberam duas opções: Ou trabalhavam durante 25 anos na Sibéria, um dos locais mais frios de todo o planeta Terra, ou passavam cinco anos trabalhando na construção da Cidade-40. Apesar de parecer mais tentadora, a segunda opção incluía um risco que não fora explicado pelos soviéticos: A construção da cidade subterrânea colocaria os trabalhadores em exposição direta a níveis extremos de radiação. Em outras palavras, eles estavam concordando em trabalhar até a própria morte.

Depois de concluída, os soviéticos conseguiram montar uma população razoável para a Cidade-40, hoje conhecida como Ozersk, localizada em Chelyabinsk Oblast. Para tanto, eram oferecidas condições melhores de vida em relação a outras localidades russas, como mercados oferecendo maiores variedades de alimentos em relação a outras cidades, bem como educação pública, casas a preços mais baixos e empregos que pagavam mais.

O problema é que entre os anos de 1945 e 1957, uma das plantas de energia nuclear da Cidade-40, chamada Mayak, liberou quantidades gigantescas de lixo radioativo em um rio próximo da cidade, comprometendo o local em níveis que seguem alarmantes até hoje. A falta de cuidado dos soviéticos com o material que manuseavam provocou uma grande explosão em 1957, que comprometeu toda uma região russa que hoje é conhecida como “Eastern Ural Radioactive Trace (EURT)”. Estima-se que pelo menos 400 mil pessoas tenham sido expostas à radiação em níveis extremos neste episódio. Anos depois do acidente, muitas pessoas que viviam nas redondezas ainda estavam sendo diagnosticadas com câncer e outras doenças decorrentes da exposição.

Mas engana-se quem pensa que a União Soviética fez algo para evitar que o problema fosse ainda maior. O governo da época fez tudo o que pode para manter tudo sob os panos, e evitar que as pessoas fossem informadas sobre o que estava acontecendo. Mesmo assim, até hoje Ozersk conta com uma população de aproximadamente 80 mil pessoas, que de certa forma até mesmo se orgulham de viver em uma região conhecida como o “cemitério da Terra”. Os moradores de Ozersk, por tratar-se de uma cidade oficialmente fechada, possuem severas restrições que os impedem de sair e entrar livremente do local. Ao mesmo tempo, o turismo é quase nulo na cidade, já que é necessária uma autorização especial para entrar na cidade. Justamente por isso, o governo local se esforça para que os moradores tenham absolutamente tudo o que poderiam precisar na cidade, para que a vontade de sair não seja um empecilho na vida de cada um.

E você, teria coragem de viver em uma cidade fechada, mesmo com toda essa história por trás?

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