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Casu marzu: Conheça o queijo feito com larvas, que é o “mais perigoso do mundo”

Leonardo Ambrosio

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Casu marzu
Descubra o casu marzu, o queijo italiano fermentado com larvas de mosca. Uma iguaria polêmica e proibida, mas ainda apreciada na Sardenha.

A produção de queijo é uma arte que evoluiu ao longo de milhares de anos, e hoje podemos dizer que existe uma infinidade de produtos diferentes, cada um com o seu próprio processo de fabricação. Normalmente, a iguaria precisa da atuação de várias bactérias até que chegue ao ponto ideal para o consumo. Mas também existem os queijos que apostam na ação dos fungos, como é o caso do gorgonzola e do roquefort. No entanto, definitivamente nada se compara ao método de produção do queijo casu marzu, tradicional da Sardenha, na Itália.

Estamos falando de uma das principais iguarias desta ilha italiana, que é visitada por turistas do mundo inteiro todos os anos. Quem já provou este queijo, jura que o seu sabor é tão extremo que pode ficar na boca até mesmo horas depois de ser engolido. O problema é que muitas pessoas sequer têm coragem de prová-lo, principalmente depois de ficarem sabendo dos detalhes sobre a sua produção.

Isso porque o casu marzu é preparado com a ajuda de larvas de mosca, o que é suficiente para fazer grande parte dos potenciais consumidores torcerem o nariz. Para outros, no entanto, isso só faz com que a iguaria seja ainda mais excêntrica e chamativa.

O casu marzu é um queijo que costuma ser servido ainda com as larvas misturadas ao produto, o que fez com que ele fosse proibido na Itália ainda em 1962.

A justificativa é simples: As autoridades italianas não aprovam a comercialização e o consumo de alimentos infestados com parasitas. Justo, não é mesmo? Aliás, a produção deste queijo é tão polêmica que, em 2009, o Guinness Book concedeu a esta iguaria o título de “queijo mais perigoso do mundo”.

O que acontece ao comer o casu marzu?

Casu marzu

Suportar a ojeriza natural em relação a este produto é apenas uma etapa pela qual você precisa estar pronto para passar. Afinal de contas, ingerir larvas vivas pode ser extremamente perigoso para o nosso organismo.

Por isso, algumas pessoas que aceitam experimentar o casu marzu pedem para que ele seja passado por uma espécie de centrífuga antes do consumo, fazendo com que as larvas sejam trituradas e se misturem com o produto final. Há, entretanto, aqueles que querem ser mais “hardcore” em suas experiências, e optam por comer a iguaria com os vermes ainda vivos.

É claro que, durante a mastigação e o restante do processo digestivo, grande parte dos vermes (se não todos) morrem e são normalmente digeridos pelo corpo humano. Mas não é impossível que um ou dois vermes resistam aos ácidos estomacais, principalmente se forem engolidos sem a devida mastigação.

E nestes casos, os médicos dizem que não se pode descartar a possibilidade de microperfurações no intestino, bem como quadros de parasitismo generalizado. O Guinness Book é bem enfático na hora de citar alguns dos sintomas que você pode ter após ingerir o casu marzu, caso dê o azar de colocar algum verme vivo para dentro do seu corpo: “Vômitos, dor abdominal e diarreia sanguinolenta”.

Questão cultural?

Casu marzu

Ainda que muitas pessoas tenham dificuldade em acreditar que os visitantes da Sardenha optem por livre e espontânea vontade a ingerir este alimento, o chef de cozinha Roberto Flore, que concedeu entrevista à CNN, garante que o alimento é seguro. “Como você define uma comida como comestível?

Cada região do mundo tem uma maneira diferente de comer insetos. […] Acredito que ninguém morreu comendo casu marzu até hoje. Se morreu, talvez estivesse bêbado. Sabe, quando você come, também bebe muito vinho”, argumentou o chef, que vive na Sardenha e possui intimidade com o prato “curioso”.

Por dentro da fabricação do casu marzu

Casu marzu

Além das larvas, para fabricar um belo pedaço de queijo casu marzu você precisa ter em mãos alguns outros ingredientes. A iguaria é feita com base no leite cru de ovelha, que é processado até chegar em um tipo de queijo conhecido como “percorino sardo”. É a partir desta qualidade de queijo que o casu marzu é produzido.

Para tal, é preciso criar uma situação que favoreça a chegada das moscas. Os chefs especializados na produção desta iguaria são tão estudiosos do assunto que sabem até mesmo os meses em que as moscas estão mais ativas, e é por isso que normalmente os queijos são preparados ao final de junho, sendo que é preciso esperar até três meses para o alimento estar pronto para o consumo. As larvas, que nascem e crescem dentro do queijo, rastejam por todo o alimento durante suas vidas, conferindo a ela o seu famoso aspecto cremoso.

Um fato curioso é que os apreciadores do casu marzu dizem que ele só é próprio para o consumo enquanto as larvas estão vivas, uma vez que quando os vermes começam a morrer naturalmente o alimento é considerado “estragado”.

Tradição que desafia as autoridades

Casu marzu

Como mencionamos anteriormente, o governo italiano não permite a comercialização do casu marzu, e descumprir esta determinação pode custar uma multa de quase 60 mil euros.

Mesmo assim, muitas famílias tradicionais da Sardenha continuam levando a tradição do queijo mais perigoso do mundo adiante. E o assunto já foi até mesmo levado aos laboratórios. Em 2005, especialistas da Universidade Sassari, da Sardenha, concluíram em um estudo que é possível produzir o casu marzu em laboratório, em condições controladas para garantir a segurança de quem está ingerindo o alimento.

De qualquer forma, o produto que para muitas pessoas é um dos mais nojentos do mundo continua sendo proibido e ilegal, mesmo no país onde ele foi inventado.

Portanto, se você tem vontade de experimentá-lo, vai precisar se esforçar para encontrar alguma família que continue produzindo o queijo de forma clandestina – o que não é assim tão raro na ilha da Sardenha. Obviamente, ao ingerir um produto ilegal, você está por sua própria conta e risco.

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Leonardo Ambrosio tem 26 anos, é jornalista, vive em Capão da Canoa/RS e trabalha como redator em diversos projetos envolvendo ciências, tecnologia e curiosidades desde 2014.