A morte do autor e ex-satanista Daniel Mastral, aos 57 anos, trouxe à tona discussões sobre o satanismo, uma religião frequentemente mal compreendida e envolta em mitos. Mastral, que se tornou conhecido por compartilhar suas experiências no satanismo e sua posterior conversão ao cristianismo, foi encontrado morto em uma área de mata em Barueri, São Paulo, com um ferimento na cabeça. Sua trajetória e obras polêmicas reacenderam o interesse público sobre os fundamentos e práticas do satanismo.
Contrariamente à crença popular, o satanismo moderno não é uma religião baseada na adoração literal de Satã como uma entidade maligna. Na verdade, a maioria dos satanistas não acredita em Satã como um ser real, mas o utiliza como um símbolo de rebelião, individualidade e busca pelo conhecimento. O satanismo contemporâneo engloba diversas vertentes, cada uma com suas próprias filosofias e práticas, mas geralmente compartilhando princípios comuns de individualismo, ceticismo e autodeterminação.
As origens do satanismo moderno
O satanismo moderno, como movimento organizado, teve início na década de 1960 com a fundação da Igreja de Satã por Anton LaVey. LaVey publicou “A Bíblia Satânica” em 1969, estabelecendo os princípios fundamentais do que ficou conhecido como Satanismo LaVeyano. Esta forma de satanismo é essencialmente ateísta, rejeitando a crença em deidades sobrenaturais e enfatizando o indivíduo como seu próprio deus.
LaVey apresentou o satanismo como uma filosofia de vida baseada na indulgência controlada, na vingança ética e na rejeição das normas sociais que ele considerava repressivas. O símbolo de Satã foi adotado não como uma entidade a ser adorada, mas como um arquétipo da rebelião contra a autoridade religiosa e social.
Desde então, outras organizações satânicas surgiram, como o Templo Satânico, fundado em 2013. Esta organização se concentra mais no ativismo político e social, utilizando a imagem de Satã para desafiar o que consideram ser privilégios religiosos injustos na sociedade, especialmente nos Estados Unidos.
Princípios e práticas do satanismo contemporâneo
O satanismo contemporâneo é marcado por uma diversidade de crenças e práticas, mas alguns princípios gerais são comumente compartilhados:
- Individualismo: Os satanistas valorizam a autonomia pessoal e a autodeterminação, rejeitando a submissão a autoridades externas.
- Ceticismo: Há uma ênfase no pensamento crítico e na rejeição de crenças sobrenaturais não comprovadas.
- Hedonismo responsável: O prazer e a satisfação pessoal são valorizados, mas com a compreensão das consequências das próprias ações.
- Simbolismo: Símbolos e rituais são utilizados mais como ferramentas psicológicas do que como práticas religiosas literais.
- Ética situacional: Em vez de regras morais absolutas, muitos satanistas adotam uma abordagem ética baseada no contexto e nas consequências.
As práticas satânicas variam amplamente entre os indivíduos e grupos. Alguns realizam rituais elaborados, enquanto outros se concentram mais em filosofia e ativismo. É importante notar que práticas ilegais ou prejudiciais, como sacrifícios de animais ou humanos, são veementemente rejeitadas pelas principais organizações satânicas.
O satanismo é frequentemente mal interpretado devido à sua associação histórica com o mal na tradição judaico-cristã. No entanto, a maioria dos satanistas modernos não se vê como “má”, mas sim como defensores da liberdade individual, do pensamento crítico e da rejeição de normas sociais que consideram opressivas.
A complexidade e diversidade do satanismo moderno tornam difícil uma definição única e abrangente. Enquanto alguns adeptos veem o satanismo como uma filosofia de vida, outros o encaram como uma forma de contracultura ou ativismo. Independentemente da abordagem, o satanismo continua a desafiar percepções convencionais sobre religião, moralidade e individualidade.
O caso de Daniel Mastral, com suas revelações sobre experiências no satanismo e subsequente rejeição dessa filosofia, ilustra a natureza controversa e muitas vezes mal compreendida deste movimento.