Há mais de nove décadas, o Lago Ness, na Escócia, se tornou um ícone global graças a um mistério que desafia explicações: a lenda de Nessie, a criatura enigmática que supostamente habita suas águas escuras. Agora, uma descoberta recente traz à tona um capítulo quase esquecido dessa busca. Uma câmera submersa há 55 anos foi resgatada das profundezas do lago, revelando detalhes curiosos sobre as primeiras tentativas de desvendar o enigma.
O equipamento, identificado como uma Kodak Instamatic, foi localizado a impressionantes 180 metros de profundidade por um robô submarino do National Oceanography Centre (NOC), do Reino Unido. Surpreendentemente, a câmera ainda estava protegida por uma caixa estanque e em condições funcionais, apesar de ter passado mais de meio século submersa. Acredita-se que ela fazia parte de um projeto pioneiro de fotografia subaquática liderado pelo professor Roy Mackal, da Universidade de Chicago, em 1970.

As fotos mostram como é o Lago Ness, mas parece que o monstro é tímido diante das câmeras (NOC)
Mackal, membro do extinto Loch Ness Investigation Bureau, dedicou anos à investigação do monstro lendário. Em 1970, ele instalou seis câmeras ao redor do lago, estrategicamente posicionadas para capturar movimentos suspeitos. Três delas foram perdidas durante uma tempestade, mas a câmera recuperada agora sobreviveu ao tempo graças ao seu invólucro resistente. O mecanismo era engenhoso: acionado por um sistema de corda com isca, o dispositivo disparava quatro fotos automáticas usando um cubo de flash integrado sempre que a linha era puxada.
Embora as imagens reveladas do filme estejam desbotadas e embaçadas, elas oferecem um vislumbre do ambiente subaquático do lago na década de 1970. Nenhuma das fotos, porém, mostra indícios de uma criatura desconhecida. Apesar disso, o achado é considerado valioso para entender a história das expedições científicas na região. Adrian Shine, líder do Loch Ness Project, ressaltou a importância da proteção da câmera: “É notável que a caixa tenha mantido o equipamento seco por tanto tempo, sob pressão e na escuridão do lago”.

Uma das fotos recuperadas da câmera.
Após a recuperação, a câmera e o filme foram doados ao The Loch Ness Centre, em Drumnadrochit, onde se tornarão parte de uma exposição permanente. O local, que já recebe milhares de visitantes anualmente, busca preservar a história das investigações sobre Nessie. Nagina Ishaq, gerente geral do centro, destacou: “Estamos comprometidos em continuar a busca e desvendar os mistérios do lago. Esta câmera é um testemunho da persistência humana em explorar o desconhecido”.
A lenda do monstro ganhou força em 1933, após relatos de um casal que afirmou ter visto uma “criatura colossal” nas águas. Desde então, cientistas, caçadores de mitos e curiosos se alternam entre ceticismo e fascínio. A câmera de Mackal representa uma das primeiras tentativas de usar tecnologia para resolver o enigma, antecedendo até mesmo o sonar e as câmeras modernas.

Adrian Shine com a armadilha fotográfica do Lago Ness.
Embora Nessie continue tão esquiva quanto sempre, o resgate desse equipamento histórico reacende o interesse pelas expedições passadas e futuras. Quem sabe quais outros segredos repousam nas profundezas do Lago Ness, esperando para emergir? Por enquanto, a câmera de 1970 permanece como uma relíquia silenciosa, testemunha de uma busca que ainda não chegou ao fim.