Você já imaginou mergulhar no oceano e ouvir uma voz humana vinda das profundezas? Em 2012, um vídeo intrigante mostrou uma baleia-beluga tentando imitar a fala de pessoas, e o registro voltou a assustar — e fascinar — a internet. O caso revela como alguns animais marinhos podem surpreender até mesmo os cientistas com habilidades vocais inesperadas.
A gravação, feita em um aquário, capturou sons incomuns emitidos pela beluga. Submersa, ela produzia ruídos que lembravam frases humanas distorcidas, algo entre um murmúrio submarino e uma tentativa de comunicação. Na época, a cena foi considerada curiosa, mas, anos depois, redes sociais reagiram com um misto de humor e terror. Repostado recentemente, o vídeo gerou comentários como: “A miniatura do vídeo fez minha alma pular do corpo por um segundo” e “Ele parece amigável, diz a repórter, enquanto a imagem parece saída de um filme de terror”.
A explicação para o fenômeno é menos sobrenatural do que parece. Especialistas sugerem que a beluga reproduziu sons que ouvia de mergulhadores em seu ambiente. Como humanos só conseguem falar debaixo d’água usando equipamentos de mergulho, a voz chega às baleias de forma abafada e distorcida. O resultado é uma imitação que parece saída de um pesadelo, mas tem origem em um processo de aprendizado vocal comum a alguns animais.
E se engana quem acha que a beluga é a única “falante” dos mares. Em 2018, um estudo internacional revelou que uma orca fêmea chamada Wikie aprendeu a imitar palavras humanas, incluindo “hello” (“olá”, em inglês) e números como “one, two, three” (“um, dois, três”). Publicado na revista Proceedings of the Royal Society: Biological Sciences, o experimento mostrou que a orca reproduziu até mesmo sons de outras espécies, como o grasnar de um papagaio.
Josep Call, professor da Universidade de St. Andrews e coautor da pesquisa, explicou que a descoberta revela a flexibilidade vocal desses animais. “Elas não só imitam movimentos corporais, como já sabíamos, mas também sons fora de seu repertório natural”, destacou. Isso significa que baleias e golfinhos têm uma capacidade de aprendizado mais complexa do que se imaginava — um traço raro no reino animal, compartilhado apenas com pássaros como papagaios e corvos.
Apesar do fascínio científico, as reações nas redes sociais mostram que a imitação humana por criaturas marinhas desperta mais arrepios do que admiração. Parte do estranhamento vem do contraste entre a aparência “amigável” das baleias e os sons quase alienígenas que emitem. Enquanto belugas são conhecidas por suas faces expressivas e comportamento sociável, as gravações soam como algo saído de um filme de ficção científica — o que explica comentários como “Parece que vou ter pesadelos hoje”.
Mas há um lado prático nessa habilidade. Para animais que vivem em grupos, a capacidade de aprender novos sons é crucial para a comunicação social. No caso das orcas, que têm dialetos específicos em cada família, imitar outros sons pode ajudar na interação com humanos em cativeiro, por exemplo. Já as belugas, que usam vocalizações para navegar e caçar em águas geladas, talvez encarem a “fala” humana como mais um experimento curioso em seu ambiente controlado.
Enquanto cientistas seguem estudando esses mistérios, o vídeo da beluga continua a circular online, lembrando que o oceano ainda guarda segredos capazes de nos surpreender — ou assustar. E se um dia você ouvir algo parecido com uma voz humana durante um mergulho, não se assuste: pode ser apenas uma baleia tentando puxar conversa.