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Belos lagos azuis estão aparecendo na Antártica, mas esta não é uma boa notícia

Leonardo Ambrosio

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Um infinidade de lagos azuis visualmente impressionantes surgiram na geleira de Langhovde, na Antártida Oriental. Para ser preciso, pelo menos 8 mil desses lagos surgiram entre o ano 2000 e 2013. E apesar da formações serem realmente bonitas, isso é qualquer coisa menos uma boa notícia.

Conforme um novo estudo baseado em satélites, publicado na revista Geophysical Research Letters, esses lagos estão aparecendo no que foi considerado um segmento particularmente frio da criosfera, que até agora resistiu em grande parte à marcha das alterações climáticas.

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“Essa é a parte do continente onde as pessoas há muito tempo assumem que está relativamente estável, sem muitas mudanças. É muito, muito frio e, portanto, só muito recentemente os primeiros lagos supra-glaciais, no topo do gelo, foram identificados”, disse Stewart Jamieson, glaciologista da Universidade de Durham e um dos autores do estudo, ao Washington Post. Esses lagos apareciam toda vez que a temperatura do ar subia acima do ponto de congelamento. No verão de 2012-2013, 37 dias apresentaram temperaturas acima dessa marca e, consequentemente, foi quando a maioria desses lagos apareceu. A água absorve mais calor e o retém por longos períodos de tempo; portanto, quando aparece, ela atua como um dissipador de calor para o gelo – e mais dissipadores de calor resultarão em mais derretimento.

A Antártida, particularmente em sua parte oriental, foi excepcionalmente protegida contra o ritmo acelerado das mudanças climáticas provocadas pelo homem em comparação à sua contraparte ártica, graças a uma série de coincidências naturais. Esses lagos de água derretida podem significar que a reputação da Antártida Oriental como uma “resistência” ao aquecimento global está prestes a chegar ao fim.

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Para ver como pode ser o futuro da Antártida Oriental, tudo o que precisamos fazer é olhar para o Ártico agora. O nível de cobertura de gelo no Ártico está caindo para níveis tão consistentemente baixos que um fenômeno conhecido como Amplificação do Ártico está entrando em vigor. O gelo ajuda a refletir a radiação solar recebida de volta ao espaço. Menos gelo significa que mais radiação chega à água, que a absorve e armazena como calor, por períodos de tempo consideravelmente longos.

Isso derrete o gelo ao seu redor, criando mais água derretida e aquecendo o Ártico ainda mais rápido… e assim por diante. Isso explica em parte por que o Ártico está aquecendo pelo menos duas vezes mais rápido do que quase qualquer outro lugar do planeta, e por que os lagos azuis que emergem no leste da Antártida existem na Groenlândia há muito mais tempo.

Poderiam os lagos na Antártida Oriental marcar o início de um efeito de “Amplificação” da Antártica? Talvez, mas isso não é tudo. Esses lagos acabam se erodindo profundamente no gelo, às vezes atingindo o leito rochoso subjacente e se juntando a redes ocultas de rios. Esses fluxos de água salgada e morna, semelhantes a vórtices, lubrificam a base das camadas de gelo, fazendo com que fluam mais rápido. Na maioria das vezes, elas fluem em direção ao mar. Em última análise, quando essas margens entrarem em colapso, isso deixará o núcleo anteriormente intacto desprotegido do aquecimento global.

Um estudo recente mapeando seu degelo revelou que as margens do manto de gelo da Groenlândia estão se tornando rapidamente instáveis, e seus lagos salgados estão apenas servindo para exacerbar isso. Ainda não há evidências que sugiram que isso esteja acontecendo na Antártida, mas se a Groenlândia é algo a se considerar, há uma boa chance de que isso aconteça – e há muito mais gelo na Antártida esperando para escorregar até o mar do que na Groenlândia.


Com informações do IFLScience.

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Leonardo Ambrosio tem 26 anos, é jornalista, vive em Capão da Canoa/RS e trabalha como redator em diversos projetos envolvendo ciências, tecnologia e curiosidades desde 2014.

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