A China acaba de estabelecer um novo recorde mundial após seu “sol artificial” sustentar 100 milhões de graus de calor na Terra por 17 minutos

por Lucas Rabello
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Cientistas na China relataram um avanço significativo na busca pela fusão nuclear, um processo frequentemente chamado de “santo graal” da energia limpa. A Academia Chinesa de Ciências (CAS, na sigla em inglês) anunciou que seu reator Experimental Advanced Superconducting Tokamak (EAST), apelidado de “sol artificial”, alcançou um novo marco ao operar por 1.066 segundos, ou pouco mais de 17 minutos.

Essa duração mais que dobrou o recorde anterior de 403 segundos estabelecido pelo mesmo reator. A conquista representa um passo crítico no esforço global para aproveitar a fusão nuclear como uma fonte de energia viável e sustentável.

A fusão nuclear, o processo que alimenta o Sol, envolve a união de núcleos atômicos para liberar quantidades enormes de energia. Diferente da fissão nuclear, usada nas usinas nucleares atuais e que produz resíduos perigosos, a fusão gera um mínimo de subprodutos radioativos de longo prazo e não emite gases de efeito estufa. Se dominada com sucesso, a fusão poderia fornecer uma fonte quase ilimitada de energia limpa, abordando tanto as mudanças climáticas quanto as preocupações com a segurança energética.

O experimento bem-sucedido é considerado um importante passo à frente.

O experimento bem-sucedido é considerado um importante passo à frente.

O reator EAST, localizado em Hefei, na China, foi projetado para replicar as condições necessárias para a fusão nuclear. Para alcançar isso, o reator deve sustentar temperaturas superiores a 100 milhões de graus Celsius—várias vezes mais quente que o núcleo do Sol—enquanto mantém um controle preciso sobre o plasma, o quarto estado da matéria.

O sucesso recente foi atribuído a atualizações feitas no reator, incluindo a duplicação da potência de saída do sistema de aquecimento. Essas melhorias permitiram que o dispositivo operasse com alta eficiência por um período prolongado, um requisito crítico para alcançar reações de fusão autossustentáveis.

Song Yuntao, vice-presidente do Instituto de Ciências Físicas de Hefei da CAS, destacou a importância da operação estável e de longo prazo para dispositivos de fusão. Ele observou que alcançar milhares de segundos de operação estável com alta eficiência é essencial para permitir a circulação autossustentável do plasma.

Embora o marco recente seja um avanço significativo, os pesquisadores reconhecem que vários desafios permanecem. Entre eles, estão a melhoria do controle de temperatura, a estabilidade do plasma e a eficiência energética para tornar a fusão comercialmente viável.

Cientistas estão analisando os resultados de seu mais recente teste com o "sol artificial".

Cientistas estão analisando os resultados de seu mais recente teste com o “sol artificial”.

As implicações desse avanço vão além da China. Cientistas em todo o mundo estão trabalhando em projetos semelhantes, incluindo o Reator Termonuclear Experimental Internacional (ITER, na sigla em inglês), na França, que visa demonstrar a viabilidade da fusão nuclear em grande escala. Os insights obtidos com os experimentos do EAST devem contribuir para o desenvolvimento global da tecnologia de fusão, aproximando a humanidade de um futuro alimentado por energia limpa e renovável.

Apesar do progresso, o caminho para a energia prática de fusão ainda é incerto. Pesquisadores alertam que obstáculos técnicos e de engenharia significativos precisam ser superados antes que a fusão possa ser integrada à rede global de energia. No entanto, os avanços alcançados pelo reator EAST destacam o potencial da fusão para revolucionar a produção de energia e mitigar os impactos ambientais das fontes de energia tradicionais.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.