Se você já assistiu a filmes como Tubarão, provavelmente imagina que esses predadores sejam criaturas silenciosas, pairando nas profundezas com uma calma assustadora. Mas e se dissermos que alguns tubarões podem, sim, emitir sons? E não estamos falando daquelas músicas de suspense de cinema. Uma descoberta recente revelou que uma espécie de tubarão produz ruídos intrigantes – e ninguém sabe exatamente como ou por quê.
A história começa com Carolin Nieder, uma bióloga marinha da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia. Enquanto estudava a audição de tubarões para seu doutorado, ela fez uma gravação subaquática que mudou tudo. O objetivo era entender como esses animais ouvem, mas, para sua surpresa, os próprios tubarões começaram a “falar”.

Tubarões não são tradicionalmente conhecidos por serem vocais.
Os protagonistas dessa descoberta são os tubarões-rig (Mustelus lenticulatus), uma espécie que chega a até 1 metro de comprimento e vive nas águas da Nova Zelândia. Diferente dos grandes tubarões brancos, eles têm dentes achatados e preferem caçar caranguejos e outros animais no fundo do mar, longe de banhistas. Durante as gravações, Nieder captou sons curtos e agudos, semelhantes a cliques, vindos dos tubarões. A princípio, ela duvidou: “No começo, não fazíamos ideia do que era, porque tubarões não deveriam emitir sons”, contou à Scientific American.
Os ruídos, que você pode ouvir [aqui], desafiam uma crença antiga da biologia marinha: a de que tubarões são completamente mudos. Estudos anteriores sugeriam que eles se comunicam apenas por movimentos corporais ou feromônios. Mas os cliques registrados por Nieder – que chegam a 100 decibéis, volume comparável a uma britadeira próxima – abriram um novo capítulo na pesquisa sobre esses animais.
Por que um tubarão faria barulho?
Uma hipótese é que os sons sejam um mecanismo de defesa. Com apenas 1 metro, o tubarão-rig é presa fácil para predadores maiores, como tubarões-mako ou leões-marinhos. Os cliques poderiam confundir o atacante por alguns segundos, dando tempo para a fuga. “Talvez esses sons desorientem o predador por uma fração de segundo”, explicou Nieder à ABC News.
Mas como um tubarão produz som sem cordas vocais? A resposta pode estar nos dentes. A equipe de Nieder propõe que os cliques são gerados pelo estalo rápido dos dentes achatados da espécie. Essa estrutura dental única, adaptada para esmagar crustáceos, pode funcionar como uma “castanhola” subaquática. O estudo, publicado recentemente, ainda ressalta que mais pesquisas são necessárias para confirmar se os sons são intencionais ou um efeito colateral da alimentação.
O que isso significa para a ciência?
A descoberta não só desafia o que sabemos sobre tubarões, mas também levanta questões sobre a comunicação marinha. Se uma espécie pequena e costeira como o rig emite sons, outras podem fazer o mesmo. Biólogos agora investigam se tubarões maiores, como os tubarões-tigre, têm comportamentos acústicos semelhantes.
Além disso, entender como esses sons funcionam pode ajudar na conservação. Dispositivos que imitam cliques, por exemplo, poderiam afastar tubarões de redes de pesca, reduzindo capturas acidentais.
Enquanto isso, o tubarão-rig continua a surpreender. Quem diria que uma criatura tão discreta guardava um segredo tão barulhento? Para Carolin Nieder, a lição é clara: o oceano ainda tem muito a revelar – e nem sempre no silêncio que imaginamos.