Imagine ser enviado para uma viagem de trabalho de oito dias que, de repente, se transforma em meses de espera no espaço. Foi exatamente o que aconteceu com os astronautas Sunita Williams e Barry Wilmore, que estão há meses presos na Estação Espacial Internacional (ISS) após uma missão que deveria durar pouco mais de uma semana.
A aventura deles começou em 5 de junho de 2024, quando decolaram do Cabo Canaveral, na Flórida, a bordo da nave Starliner, da Boeing. Era o primeiro voo tripulado dessa cápsula até a ISS, e tudo parecia seguir conforme o plano inicial — até que problemas técnicos tornaram inviável a volta segura da dupla na data prevista.
A Starliner apresentou falhas críticas durante a missão, e a Boeing, em conjunto com a NASA, decidiu que não valia a pena arriscar o retorno dos astronautas na própria nave. Desde então, Williams e Wilmore aguardam na ISS por uma solução. A salvação veio de uma fonte inesperada: a SpaceX, empresa liderada por Elon Musk, ofereceu sua cápsula Dragon para trazer a dupla de volta à Terra. Após alguns adiamentos, a data oficial de retorno foi marcada para 12 de março, duas semanas antes do previsto inicialmente.
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Barry Wilmore e Suni Williams estão presos no espaço desde junho de 2024.
Enquanto isso, os dois astronautas enfrentam os desafios de uma estadia prolongada no espaço. Segundo pesquisas do Baylor College of Medicine, ficar muito tempo em ambiente de microgravidade traz efeitos preocupantes ao corpo humano. Os ossos perdem densidade, os músculos enfraquecem e o volume sanguíneo diminui, o que reduz a tolerância a mudanças de postura e a capacidade aeróbica. Além disso, a exposição à radiação cósmica aumenta os riscos de doenças degenerativas, danos ao sistema nervoso e até câncer.
Quando finalmente retornarem, Williams e Wilmore também precisarão se adaptar novamente à gravidade terrestre. Um estudo famoso com os gêmeos Scott e Mark Kelly ajuda a entender o que os aguarda. Scott passou quase um ano no espaço, enquanto Mark permaneceu na Terra. Ao compará-los, cientistas descobriram que Scott desenvolveu erupções na pele e sensibilidade aumentada por cerca de seis dias após o retorno.
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Pesquisadores analisaram as diferenças entre os gêmeos Scott e Mark Kelly.
Outra mudança surpreendente foi nos telômeros — estruturas que protegem as pontas dos cromossomos. Durante a viagem espacial, os telômeros de Scott alongaram, mas encolheram drasticamente assim que ele voltou. Telômeros mais curtos estão ligados ao envelhecimento acelerado e a maiores riscos de doenças.
A pesquisa com os irmãos Kelly mostrou ainda que, após missões espaciais, os astronautas tendem a ter mais telômeros curtos do que antes de partirem. Susan Bailey, professora da Universidade do Estado do Colorado que participou do estudo, reforça que esses efeitos são cumulativos e preocupantes para viagens longas, como as planejadas para Marte.
Enquanto Williams e Wilmore se preparam para embarcar na cápsula Dragon, equipes na Terra monitoram sua saúde para minimizar os impactos da jornada. A experiência deles não só testa os limites da resistência humana, mas também fornece dados valiosos para futuras missões. A volta está marcada para março, mas o aprendizado sobre como o espaço molda nossos corpos continuará por muito tempo.