Um fenômeno estranho e preocupante está chamando a atenção na Califórnia. Porcos selvagens, animais comuns em várias regiões, estão sendo encontrados com uma característica chocante: sua carne apresenta uma coloração azul intensa e vibrante, descrita como “azul-neon” ou semelhante ao de mirtilos.
Dan Burton, proprietário de uma empresa de controle de vida selvagem, teve uma surpresa ao abater um javali para um cliente. Em vez da carne rosada ou avermelhada típica, ele se deparou com um tecido de um azul brilhante e inconfundível. A descoberta foi tão incomum que ele imediatamente alertou as autoridades do Condado de Monterey e o Departamento de Pesca e Vida Selvagem da Califórnia (CDFW).
Esta não é a primeira ocorrência. Moradores de Morgan Hill, também na Califórnia, já haviam se deparado com a mesma situação anos atrás. Em 2015, fotos de um porco abatido com carne azul-elétrica foram compartilhadas online por alguém cujos familiares encontraram o animal em sua propriedade rural.
A carne azul estava presente nas partes mais gordurosas do porco (GlendilTEK/Imgur)
Mas o que está causando essa transformação peculiar? Investigadores do Laboratório de Saúde da Vida Selvagem (WHL) do CDFW e do Laboratório de Saúde Animal e Segurança Alimentar da Califórnia em Davis chegaram a uma conclusão preocupante. A causa mais provável é a exposição dos porcos a iscas raticidas contendo diphacinona, um poderoso anticoagulante usado para controlar roedores como ratos, camundongos e esquilos.
Essas iscas venenosas são frequentemente tingidas de azul justamente para serem facilmente identificadas e evitadas por humanos e animais não-alvo. Quando um porco selvagem consome essa isca azul, o corante é absorvido pelo seu organismo, tingindo tecidos e órgãos internos. A cor azul brilhante funciona como um sinalizador visual do envenenamento.
Relatos de porcos com carne azul remontam a 2015 (GlendilTEK/Imgur)
As autoridades de saúde emitiram um alerta urgente: a carne desses porcos azuis representa um perigo real para o consumo humano. O veneno presente na isca – a diphacinona – não se dissipa magicamente. Ele permanece ativo nos tecidos do animal intoxicado.
Consumir essa carne, mesmo que bem cozida, pode levar a uma exposição secundária ao rodenticida. O processo de cozimento não reduz significativamente a concentração da substância tóxica. Ingerir a carne contaminada significa ingerir o veneno também.
Acredita-se que a difacinona seja a causa da estranha carne azul (CDFW)
O Dr. Ryan Bourbour, Coordenador de Investigação de Pesticidas do CDFW, reforçou o alerta para caçadores e a população em geral. Ele destacou que a contaminação por rodenticidas não é um risco exclusivo dos porcos. Outros animais de caça, como veados, ursos e até gansos, podem estar contaminados se tiverem acesso a áreas onde esses produtos químicos são aplicados.
A proximidade de habitats naturais com zonas de aplicação intensa de raticidas aumenta significativamente o risco para a vida selvagem não-intencional, como os porcos. O caso dos javalis de carne azul serve como um lembrete visível e perturbador desse perigo químico no ambiente. A recomendação é clara: se encontrar um animal com coloração anômala, especialmente esse azul vibrante, evite completamente o consumo e reporte às autoridades competentes.