Muitas pessoas não dão a atenção que deveriam dar às abelhas, mas a verdade é que não podemos menosprezar a importância desses animais para o bem-estar da natureza e até mesmo para a preservação da nossa própria espécie. Ainda mais importante que a produção do mel, finalidade para a qual muitos criam as abelhas, está a polinização, que garante a reprodução e a diversidade de plantas. Estima-se, por exemplo, que 75% de todos os cultivos voltados para a produção de alimentos para seres humanos dependam diretamente da ação das abelhas. Tamanha a importância destes animais em nossas vidas, eles recebem inclusive uma homenagem internacional todos os anos, com a comemoração do Dia Internacional das Abelhas, que ocorre sempre no dia 20 de maio.
Infelizmente, o cenário parece estar caminhando para uma situação preocupante. De dezembro de 2018 até fevereiro de 2019, em um período de apenas três meses, apicultores brasileiros estimam ter registrado cerca de 500 milhões de abelhas mortas em suas criações. Desse número alarmante, 400 milhões foram encontradas apenas no estado do Rio Grande do Sul. Em solo gaúcho, acredita-se que o principal vilão responsável pela morte das abelhas seja o emprego inadequado de pesticidas, já que alguns tipos de veneno utilizados na produção de grãos e cultivo de plantas são diretamente ofensivos às apiculturas. Outros estados, como Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e São Paulo registraram 50, 45 e 7 milhões de mortes em abelhas, respectivamente, de acordo com dados revelados no começo deste ano.

Especificamente falando, o principal agrotóxico causador da situação desesperadora registrada no Brasil entre o fim do ano passado e o começo deste ano é o que utiliza o princípio ativo “Fipronil”. Este tipo de veneno é conhecido pela capacidade de dizimar colônias inteiras de insetos, visto que o animal contaminado volta para a sua colônia, contaminando todos os seus semelhantes. Ao que tudo indica, a morte das abelhas indica um efeito colateral indesejado e não calculado pelos produtores que fizeram uso desta substância. Em entrevista à Revista Galileu, o apicultor Salvador Gonçalves deu a dimensão do problema verificado no município de Cruz Alta/RS, onde 20% das criações de abelhas foram destruídas entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019. “Apareceram uns venenos muito bravos. Eles colocam de avião de manhã e à tarde as abelhas já começam a aparecer mortas”, relatou Salvador à Galileu.
Durante o Dia Mundial das Abelhas de 2018, a Organização das Ações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) relembrou a importância da preservação das abelhas, e já no ano passado alertava para os riscos do emprego descontrolado e irregular de pesticidas e agrotóxicos.
“Não podemos continuar nos concentrando em aumentar a produção e a produtividade com base no uso generalizado de pesticidas e produtos químicos que ameaçam os cultivos e os polinizadores”, alarmou o diretor-geral da agência, José Graziano da Silva, de acordo com uma publicação no site oficial da ONU. Na mesma ocasião, a FAO aproveitou para lembrar que, além dos agrotóxicos, também são fatores de risco para as abelhas as consequências trazidas pelo aquecimento global e a perda de biodiversidade, o que também aponta para atitudes e hábitos propagados por seres humanos.
Não é de hoje, no entanto, que o Fipronil vem causando danos severos às populações de abelhas. Em 2018, pesquisadores analisaram em um estudo científico o caso da morte em massa de abelhas observada na França durante a primeira metade dos anos 1990. Conforme versam os resultados, abordados em uma publicação da Chemistry World, o Fipronil mostrou-se responsável pela morte de 4000-9000 abelhas a mais em relação à dados de controle (retirados de períodos sem a influência deste tipo de agrotóxico). Estes números foram verificados apenas na primeira semana de aplicação do veneno. A mesma publicação da Chemistry World relembra que pelo menos 1 milhão de abelhas foram encontradas mortas recentemente em Cape Town, na África do Sul, também por conta do Fipronil.
Urge às entidades ligadas a agricultura estabelecer medidas que freiem a mortandade de abelhas, sob o risco de colocarmos toda a natureza, e a nós mesmos, em uma condição grave até então nunca observada.