Adeus à jornada de trabalho de 8 horas: Elon Musk e o dono do Google querem que todos trabalhem sem descanso

por Lucas Rabello
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Elon Musk, conhecido por comandar empresas como Tesla e SpaceX, assumiu um novo cargo surpreendente: administrador do recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), idealizado por Donald Trump para reduzir gastos públicos nos Estados Unidos.

A iniciativa, porém, está gerando polêmica não apenas pelo objetivo, mas por uma declaração bombástica de Musk. Em uma de suas aparições recentes, ele revelou que os funcionários do DOGE trabalham 120 horas por semana — o equivalente a 24 horas diárias, se distribuídas em cinco dias. O anúncio imediatamente levantou questões sobre legalidade, saúde e ética trabalhista.

Nos Estados Unidos, a Constituição estabelece jornadas legais que variam entre 8 e 12 horas por dia, dependendo do estado. Isso significa que, mesmo no cenário mais flexível, um funcionário não poderia ultrapassar 60 horas semanais sem violar a lei.

A proposta de Musk, portanto, não só desafia os limites legais, como ignora completamente a necessidade básica de descanso. Para contextualizar: uma pessoa que trabalha 120 horas por semana teria apenas 48 horas livres — considerando que dormir 8 horas por dia já consumiria 56 horas semanais. Ou seja, não sobraria tempo para alimentação, deslocamento ou vida pessoal.

Musk justificou a carga horária afirmando que os colaboradores do DOGE entraram no projeto “comprometidos a impulsionar a nova administração Trump”. Ele ainda criticou funcionários de outras agências governamentais, que trabalham 40 horas semanais: “Nossos oponentes burocráticos estão perdendo tão rápido porque são otimistas demais”. A declaração gerou reações mistas, com especialistas alertando para riscos como esgotamento mental, aumento de ansiedade e até colapsos físicos.

A polêmica ganhou ainda mais força quando Sergey Brin, cofundador do Google, entrou no debate. Em um memorando interno vazado pelo The New York Times, Brin pediu que funcionários da equipe de inteligência artificial Gemini aumentassem sua jornada para 60 horas semanais — 50% a mais do que o padrão atual de 40 horas. Segundo ele, “60 horas é o ponto ideal de produtividade”. Na prática, isso significaria trabalhar 12 horas por dia de segunda a sexta-feira, ou mais de 8 horas diárias incluindo sábado e domingo.

Elon Musk

Brin, que retornou ao Google em 2023 para liderar a área de IA após se afastar em 2019, não poupou críticas aos que resistem à mudança. No mesmo documento, ele chamou de “improdutivos e desmoralizadores” os colaboradores que trabalham menos de 60 horas semanais, acusando-os de “fazer o mínimo para sobreviver”. A declaração, embora menos radical que a de Musk, reacendeu discussões sobre a cultura do excesso de trabalho no Vale do Silício — onde longas jornadas já são comuns, mas raramente formalizadas.

Enquanto isso, a proposta de Musk continua sendo o centro das atenções. Trabalhar 120 horas semanais não só é fisicamente impossível sem negligenciar necessidades básicas, como viola direitos trabalhistas históricos. A própria legislação dos EUA, que limita jornadas extremas, surgiu após décadas de lutas por condições dignas — incluindo a conquista da semana de 40 horas na década de 1930.

Apesar dos alertas, Musk e Brin parecem determinados a promover suas visões. O primeiro defende que a intensidade é necessária para “cortar gastos e vencer a burocracia”. Já Brin argumenta que a pressão por produtividade é essencial para manter a liderança do Google em inteligência artificial, setor altamente competitivo. Enquanto isso, funcionários anônimos relatam preocupação com o impacto dessas políticas em seu bem-estar — e na própria eficiência das equipes, já que estudos mostram que jornadas excessivas reduzem a produtividade a longo prazo.

O debate sobre até onde empresas e governos podem ir em nome da “eficiência” ainda está longe de terminar. Enquanto isso, as declarações de Musk e Brin seguem ecoando como um exemplo extremo de como a cultura do trabalho sem limites continua desafiando direitos básicos.

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.

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