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Aceredo: Cidade fantasma da Galícia está ressurgindo após 30 anos embaixo d’água

Leonardo Ambrosio

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Em 1992, moradores de Aceredo, uma pequena vila na fronteira entre Espanha e Portugal, assistiram à elevação do rio Limia, que transbordou e fez com que a cidade ficasse embaixo d’água. Entretanto, esta não foi uma inundação comum. A área precisava de um novo reservatório, e Aceredo foi sacrificada para dar lugar a ele. Agora, a cidade fantasma está ressurgindo depois de 30 anos debaixo d’água, para surpresa de todos.

Durante períodos de seca, é possível ver alguns telhados surgindo à medida em que os níveis da água diminuem. No entanto, o reservatório raramente fica baixo o suficiente para mostrar tanto assim. Agora, após meses de uma seca histórica na região, quase toda a vila está em terra firme. O reservatório está com apenas 15% de sua capacidade, revelando partes do antigo vilarejo que não viam a luz do sol há muito tempo.

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Rosa Veiga/Europa Press via Getty Images

María del Carmen Yañez, prefeita do município de Lobios, que inclui Aceredo, explica que o reservatório está tão baixo devido a uma seca provocada pelas mudanças climáticas, bem como pela “exploração agressiva” da empresa de energia de Portugal que administra a área.

Mas, apesar das circunstâncias que levaram a esse ressurgimento, os turistas estão chegando em massa para conhecer a vila – e com certeza há muita coisa para ver. Estradas, caminhos e áreas de terras agrícolas estão visíveis pela primeira vez em muito tempo, assim como antigas casas e construções que pertenciam a grandes companhias. As estruturas de pedra permanecem, embora a maioria dos telhados tenha desabado e as portas e janelas de madeira estejam apodrecidas.

No início da década de 1990, Aceredo e quatro outras aldeias da região da Galícia, na Espanha, foram inundadas para dar lugar a um reservatório. Na época, Aceredo tinha 70 casas e contava com 120 moradores – todos obrigados a deixar suas residências nos dias que antecederam a construção do reservatório. Mas eles não foram embora sem lutar. Houve um grande número de protestos, e até mesmo uma greve de fome de 10 dias foi colocada em prática por cidadãos furiosos com a decisão.

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Carmelo Alen/AFP via Getty Images

Na época, Margarita de Brito era moradora de Buscalque, outra vila que foi inundada durante a criação do reservatório. Apesar da oposição, ela conta: “No final a água veio, no primeiro dia um pouco, no segundo um pouco mais e, no terceiro dia, subiu e não caiu mais”.

Nem tudo, porém, estava perdido. Uma igreja histórica foi transferida para uma cidade vizinha, e as famílias optaram por realocar os corpos de seus entes queridos que haviam sido enterrados na vila. Além disso, quando os moradores começaram a juntar seus pertences e planejar suas mudanças, eles filmaram as cenas ao seu redor.

Não há dúvidas de que as imagens da vida em Aceredo ajudaram a preservar a história desta cidade, que acabou sendo tomada pela água. E em 2015, dois cineastas usaram as imagens para montar um documentário chamado “Os Dias Afogados”. Ainda assim, as perdas foram grandes para as famílias que precisaram se mudar. Muitos viviam em Aceredo por gerações, sem nunca ter conhecido outro lar.

Alguns se mudaram para aldeias próximas, enquanto outros deixaram a área para criar novas memórias em outras regiões. Agora, os ex-moradores estão tendo uma oportunidade que nunca pensaram que teriam outra vez.

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Miguel Riopa/AFP via Getty Images

As imagens feitas por drones mostram a rapidez com que os moradores tiveram que sair de lá na época. Garrafas vazias ainda estão nas mesas, caixotes estão empilhados contra as paredes e um carro velho e enferrujado está onde foi estacionado pela última vez. Mesmo uma fonte em ruínas ainda jorra um fluxo constante de água.

Para quem nasceu ou viveu na pequena aldeia, fica um sentimento que mistura saudade, alegria e tristeza, além é claro da preocupação com as consequências que as mudanças climáticas já estão apresentando ao nosso planeta.


Com informações do All That’s Interesting.

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Leonardo Ambrosio tem 26 anos, é jornalista, vive em Capão da Canoa/RS e trabalha como redator em diversos projetos envolvendo ciências, tecnologia e curiosidades desde 2014.

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