A verdade sombria por trás de toda conversa que você tem com o ChatGPTA verdade sombria por trás de toda conversa que você tem com o ChatGPT

por Lucas Rabello
2,8K visualizações

Você já parou para pensar no que acontece por trás da tela cada vez que bate um papo com o ChatGPT? Essa ferramenta incrível, que surgiu em 2022 e rapidamente se tornou a parceira de milhões para tarefas do dia a dia – desde ajudar com currículos até encontrar a piada perfeita –, guarda um segredo que vai além das suas respostas inteligentes. Um impacto ambiental surpreendente e pouco discutido.

A sede invisível da inteligência artificial não é por conhecimento, mas literalmente por água. Pesquisas recentes trouxeram à tona um dado preocupante: a cada conjunto de 10 a 50 perguntas que você faz ao ChatGPT, estima-se que aproximadamente 500 mililitros (meio litro) de água potável sejam consumidos. Parece pouco? Multiplique isso pelos milhões de interações diárias em todo o mundo, e o volume se torna colossal.

Mas a água não está sozinha nessa conta. O apetite energético do ChatGPT é igualmente impressionante. Relatórios indicam que a operação diária dessa ferramenta consome mais de 500.000 quilowatts-hora (kWh) de eletricidade.

Para ter uma ideia do que isso representa, essa quantidade de energia seria suficiente para abastecer o consumo médio de cerca de 180.000 residências nos Estados Unidos por um dia. É energia que poderia estar iluminando cidades, mas que, em grande parte, está sendo usada para gerar respostas, inclusive para trabalhos universitários.

E aqui vai uma curiosidade inesperada: até a sua educação com o robô tem um custo extra. O fundador da OpenAI, criadora do ChatGPT, brincou publicamente que o hábito de alguns usuários de incluir palavras como “por favor” e “obrigado” nas perguntas pode custar dezenas de milhões de dólares anualmente em processamento adicional.

Um analista de tecnologia chegou a estimar que os custos diários de operação do ChatGPT ultrapassam 2,5 milhões de reais. Quanto disso se deve à polidez dos usuários? Difícil precisar, mas é um detalhe curioso no meio de um gasto gigantesco.

Por que tanta água e energia? A resposta está nos data centers. Esses são os verdadeiros cérebros físicos por trás da magia digital do ChatGPT. Imagine um computador superpotente que esquenta muito quando você exige muito dele. Agora, multiplique isso por milhares de máquinas trabalhando sem parar, 24 horas por dia, 7 dias por semana. O calor gerado é imenso e perigoso para os próprios equipamentos.

É aí que entra a água. Sistemas avançados de refrigeração, muitas vezes baseados em água, são essenciais para evitar que os servidores literalmente derretam. Funciona como um gigantesco sistema de suor artificial. Torres de resfriamento evaporam água para dissipar o calor.

Esse processo de refrigeração evaporativa tem um detalhe crucial: a água usada é perdida para a atmosfera, não pode ser reaproveitada no sistema. E não é qualquer água: precisa ser de qualidade potável, livre de impurezas que poderiam danificar os delicados componentes dos servidores.

O que isso significa para o planeta? Os números falam por si. Enquanto a inteligência artificial se integra cada vez mais profundamente em nossas vidas – e a tendência é que seu uso só aumente –, seu consumo de recursos vitais também cresce. Eletricidade que poderia abastecer comunidades e água potável que poderia matar a sede de populações estão sendo direcionadas em grande escala para manter os servidores de IA funcionando e frescos.

Contextualizando, a revista Forbes alerta que projeções indicam que até 2050, cerca de dois terços da população global poderá enfrentar escassez de água em algum grau. Diante desse cenário futuro, o uso significativo de água limpa para resfriar servidores que geram respostas para perguntas cotidianas levanta questões importantes sobre prioridades e sustentabilidade.

Diante das preocupações sobre o uso de água, a OpenAI, por meio de um porta-voz, reconheceu à Forbes que “a IA pode ser intensiva em energia” e afirmou que a empresa está “constantemente trabalhando para melhorar a eficiência”. Eles também declararam considerar cuidadosamente o melhor uso de seu poder computacional e apoiar os esforços de parceiros para alcançar metas de sustentabilidade.

A próxima vez que uma dúvida surgir, talvez valha a pena considerar alternativas antes de acionar o assistente digital. Consultar um livro, perguntar a um professor, trocar ideias com um amigo ou até mesmo explorar fóruns online podem ser opções com uma pegada ambiental significativamente menor. O conhecimento humano tradicional ainda tem muito a oferecer, sem a sede oculta dos data centers.

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.