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A triste história de Laika, que se transformou no primeiro ser vivo a orbitar a Terra

Leonardo Ambrosio

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No dia 3 de novembro de 1957, a União Soviética chamou a atenção do mundo inteiro ao fazer o primeiro ser vivo orbitar a Terra com “sucesso”. Não estamos falando, no entanto, de um astronauta ou de uma equipe de cientistas, e sim de uma cadelinha sem raça definida, que recebeu o nome de Laika. Naquele dia, o cãozinho entrou no Sputnik 2, embarcando em uma viagem que obviamente terminaria com a sua morte.

A missão suicida foi anunciada logo depois que o Sputnik 1 se transformou no primeiro satélite feito por seres humanos a orbitar a Terra. Tratava-se de uma ordem direta do premiê Nikita Khrushchev, que solicitou aos cientistas liderados por Vladimir Yazdovsky um voo que coincidisse com o aniversário de 40 anos da Revolução Bolchevique na Rússia.

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Divulgação / Youtube / PeritoAnimal

Os cientistas receberam, então, o dever de escolher um cão para embarcar nesta missão inovadora, mas que aos olhos de muitas pessoas era extremamente cruel. Apegados aos cães que eram criados no laboratório, os soviéticos voltaram os olhos para os animais que viviam em situação de rua, e que tivessem condições de cumprir a missão. Para escolher o “voluntário”, os cães foram submetidos a uma série de testes que determinavam seus níveis de obediência e passividade, já que o animal escolhida deveria se comportar adequadamente durante o voo, para não prejudicar o objetivo central do projeto.

Laika foi escolhida por se comportar melhor em relação aos outros candidatos, e também pelo fato de ter dado à luz recentemente. Na época, a cadelinha que apresentava traços de uma mistura entre husky-spitz tinha apenas 3 anos de idade, e uma vida inteira pela frente. E sabendo que sua vida seria interrompida pela missão, Vladimir Yazdovsky decidiu levá-la para sua casa um dia antes da decolagem, para dar a ela um dia tranquilo, com tudo o que ela gostava.

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Às 05h30 do dia 3 de novembro de 1957, Laika foi colocada a bordo do Sputnik 2, visivelmente assustada e superaquecida. Segundo algumas fontes, o cãozinho também deveria estar faminto, já que alguns dizem que não foi oferecido suprimento adequado de comida para a missão. Com o tempo, os ruídos e as alterações na pressão do ar fizeram com que Laika passasse por um aumento fora do normal em seus batimentos cardíacos. Segundo especialistas, o coração da cadelinha deve ter trabalhado em taxas até três vezes acima do considerado normal. Mesmo assustada e correndo sério risco, Laika atingiu a órbita da Terra com vida, circulando o planeta durante 103 minutos. O problema é que, eventualmente, como já era previsto, o escudo térmico da Sputnik 2 se perdeu, fazendo com que a temperatura dentro da cápsula chegasse a mais de 90ºC.

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No entanto, existe certa controvérsia quanto ao tempo de sobrevivência de Laika no espaço. A União Soviética defende, segundo documentos da época, que a cadelinha foi capaz de sobreviver por dias. No entanto, dados da imprensa americana questionam a afirmação, e ainda dizem que os soviéticos poderiam ter resgatado Laika com vida se assim quisessem. Como não poderia ser diferente, vários ativistas da causa animal se posicionaram contra a missão, dizendo que a União Soviética agiu de forma irresponsável ao não criar uma tecnologia capaz de devolver a cadelinha com vida à Terra. No Reino Unido, a Sociedade Real para a Prevenção de Crueldade aos Animais, e a “British Society for Happy Dogs” também se posicionaram oficialmente contra a missão. Houve, também, protestos nos Estados Unidos, mais especificamente na frente da sede das Nações Unidas em Nova Iorque.

Hoje em dia, os cientistas sabem que mesmo que Laika tivesse recebido muita água, comida e oxigênio, seria muito difícil fazer com que ela sobrevivesse à reentrada na atmosfera. Anos depois da missão, muitos dos cientistas que participaram do projeto manifestaram publicamente seu arrependimento. Em 1985, a história de Laika foi contada pelo filme sueco “My Life as a Dog”.

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Leonardo Ambrosio tem 26 anos, é jornalista, vive em Capão da Canoa/RS e trabalha como redator em diversos projetos envolvendo ciências, tecnologia e curiosidades desde 2014.

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