Nos registros da história corporativa, poucas histórias capturam tão bem a complexidade da inovação tecnológica e das dinâmicas de mercado quanto a trajetória da Kodak. A jornada da gigante da fotografia, de líder de mercado à falência, serve como um exemplo de como até mesmo inovações revolucionárias podem ser sacrificadas em nome de estratégias empresariais equivocadas.
Em 1975, o engenheiro da Kodak, Steve Sasson, criou o que viria a ser uma das invenções mais transformadoras da fotografia: a câmera digital. Quando Sasson apresentou sua criação aos executivos da empresa, a resposta foi inesperada. Algo como: “Isso é interessante, mas não conte a ninguém”, refletindo a decisão da empresa de suprimir, em vez de desenvolver, essa tecnologia revolucionária.
O raciocínio por trás dessa decisão estava enraizado no modelo de negócios altamente lucrativo da Kodak. O sucesso da empresa não se baseava apenas na venda de câmeras, mas principalmente na receita recorrente gerada pela venda de filmes fotográficos. Um executivo sênior da época explicou: “O núcleo do nosso negócio é a venda de filmes, e a tecnologia digital prejudicaria isso.”
Durante as décadas de 1980 e 1990, a Kodak manteve sua posição dominante no mercado de fotografia. Em 1996, a empresa atingiu seu ápice, com uma avaliação de US$ 31 bilhões, aparentemente validando suas escolhas estratégicas. A Kodak continuou focada na fotografia analógica, mantendo suas inovações digitais em segredo.
Anos depois, Sasson compartilhou os bastidores dessa decisão: “A reação da gestão foi: ‘Isso é interessante, mas não conte a ninguém sobre isso’.” A liderança da Kodak temia que abraçar a tecnologia digital canibalizasse o lucrativo negócio de filmes fotográficos.
Contudo, à medida que a fotografia digital ganhava força no início dos anos 2000, a posição de mercado da Kodak começou a enfraquecer. Outras empresas adotaram e aperfeiçoaram rapidamente a tecnologia digital, enquanto a Kodak permaneceu comprometida com seu modelo de negócios tradicional. Um ex-executivo da empresa refletiu sobre esse período: “Sabíamos que a fotografia digital eventualmente dominaria, mas achávamos que tínhamos mais tempo.”
A resistência da empresa à mudança tornou-se cada vez mais custosa à medida que as câmeras digitais se tornavam mais acessíveis e sofisticadas. Em meados dos anos 2000, quando o boom das câmeras digitais entrou em pleno vigor, a Kodak se viu tentando recuperar o atraso em um mercado que poderia ter liderado.
As consequências dessas decisões ficaram claras em 2012, quando a Kodak entrou com pedido de falência. Embora a empresa ainda opere hoje, sua forma atual é muito distante do status de líder de mercado que um dia ostentou. A mesma tecnologia que poderia ter garantido o futuro da Kodak no mundo da imagem digital tornou-se o símbolo de sua relutância em abraçar a mudança.
No mercado fotográfico atual, câmeras digitais e smartphones dominam a captura de imagens, enquanto a fotografia com filmes analógicos tornou-se um nicho, atraindo principalmente entusiastas e amantes da nostalgia do século XX. A empresa que um dia revolucionou a fotografia, tornando-a acessível ao público em geral, agora opera à margem da indústria que um dia liderou.