Arqueólogos afirmam que a ‘pirâmide mais antiga do mundo’ não foi construída por humanos.

por Lucas Rabello
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Sabia que a pirâmide mais antiga do mundo pode não ter sido construída por humanos? A busca por respostas sobre nossas origens sempre rende debates acalorados, e um deles gira em torno de Gunung Padang, um sítio arqueológico na Indonésia que virou centro de uma polêmica científica.

Enquanto a Pirâmide de Djoser, no Egito, é tradicionalmente considerada a mais antiga do mundo — com estimativa de construção por volta de 2630 a.C. —, uma pesquisa publicada em 2023 na revista Archaeological Prospection propôs uma reviravolta: estruturas em Gunung Padang poderiam remontar a 25.000 a.C., tornando-as milhares de anos mais velhas. Mas será que essa descoberta resistiu ao crivo da comunidade científica?

A controvérsia começou quando pesquisadores indonésios, liderados pelo geólogo Danny Hilman Natawidjaja, analisaram o local usando técnicas como datação por radiocarbono e radar de penetração no solo. Segundo o estudo, Gunung Padang não seria uma simples colina natural, mas uma estrutura complexa formada em camadas.

A pirâmide escalonada de Djoser é considerada a mais antiga do mundo.

A pirâmide escalonada de Djoser é considerada a mais antiga do mundo.

A hipótese sugeria que uma colina de origem vulcânica teria sido esculpida e “revestida” arquitetonicamente por humanos há cerca de 27 mil anos, durante o período glacial. Se confirmada, a teoria abalaria a visão tradicional de que técnicas avançadas de construção só surgiram com a agricultura, cerca de 11 mil anos atrás. O artigo citava ainda outros sítios antigos, como Göbekli Tepe, na Turquia, como exemplos de complexidade pré-agrícola.

No entanto, a reação de parte da comunidade arqueológica foi imediata e cética. Especialistas questionaram a falta de evidências diretas de intervenção humana. Flint Dibble, arqueólogo da Universidade de Cardiff, comparou as rochas do local a materiais que rolaram colina abaixo e se organizaram naturalmente: “Não há sinais de trabalho humano, como marcas de ferramentas ou alinhamento intencional”. Já Bill Farley, da Southern Connecticut State University, destacou que as amostras de solo de 27 mil anos não continham elementos como carvão ou fragmentos ósseos, indicadores clássicos de atividade humana.

O sítio de Gunung Padang, na Indonésia.

O sítio de Gunung Padang, na Indonésia.

O debate ganhou proporções tão intensas que a própria Archaeological Prospection abriu uma investigação. Em março de 2024, o estudo foi retratado, com os editores explicando que as amostras analisadas não estavam associadas a estruturas construídas por humanos. Em outras palavras, a datação antiga poderia ser de camadas geológicas naturais, não de uma pirâmide. A retratação gerou revolta em Natawidjaja, que acusou o periódico de “censura” e de ignorar princípios científicos como transparência e justiça acadêmica.

O artigo foi retratado pela *Archaeological Prospection*.

O artigo foi retratado pela Archaeological Prospection.

Enquanto isso, Gunung Padang segue intrigando. Para turistas, é um local místico, com terraços de pedra que lembram uma escadaria gigante. Para cientistas, a discussão continua: como diferenciar formações naturais modificadas por humanos de estruturas totalmente artificiais? Apesar da retratação, o caso reforça a importância de métodos rigorosos na arqueologia — e como uma única descoberta pode desafiar (ou não) nossa compreensão sobre o passado.

E você, o que acha? Será que nossos ancestrais dominavam técnicas surpreendentes muito antes do que imaginamos, ou a natureza é capaz de criar ilusões que confundem até os especialistas? Enquanto a ciência busca respostas, Gunung Padang permanece um enigma envolto em camadas de tempo e disputas acadêmicas.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.