A Ilha das Cobras, no Brasil, onde nenhum humano pode visitar, é lar de uma espécie muito mais letal do que as cobras comuns

por Lucas Rabello
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Aninhada na costa de São Paulo, encontra-se uma pequena ilha de 43 hectares que ganhou uma reputação infame como um dos lugares mais perigosos do planeta. A Ilha da Queimada Grande, mais conhecida como Ilha das Cobras, abriga cerca de 4.000 cobras, tornando-se uma área restrita que requer permissão especial para visitação.

O residente mais notável da ilha é a jararaca-ilhoa (Bothrops insularis), uma víbora venenosa encontrada exclusivamente neste pedaço de terra. Essas serpentes, que medem entre 70 e 118 centímetros de comprimento, possuem corpos amarelo-pálidos marcados com padrões marrons em forma de folha. Seu veneno, 5 vezes mais potente do que o de suas parentes continentais, ajuda-as a capturar suas presas preferidas, como pássaros, lagartos e outros pequenos animais.

Durante uma visita à ilha em 2019, a jornalista Tara Brown, do programa 60 Minutes Australia, documentou as características únicas dessas serpentes. “As jararacas-ilhoas não existem em nenhum outro lugar, apenas na Queimada Grande”, relatou. “Seu isolamento lhes deu algumas peculiaridades evolutivas. Elas são cinco vezes mais venenosas do que suas primas do continente e caçam pássaros.”

Você definitivamente não vai querer cruzar o caminho de uma dessas!

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Apesar de sua reputação assustadora, essas cobras enfrentam desafios para sua sobrevivência. A redução das áreas florestais no continente tem prejudicado as rotas de migração de aves, limitando a oferta de alimento para a população de cobras da ilha. Essa pressão ambiental contribuiu para que a jararaca-ilhoa fosse classificada como criticamente ameaçada de extinção.

Embora a Ilha das Cobras possa parecer um cenário de pesadelo para muitos, o herpetólogo Whit Gibbons, que estuda cobras há mais de seis décadas, oferece uma perspectiva diferente sobre o comportamento desses animais. “Quando você caminha pela floresta, muitas cobras veem você, mas você raramente as vê”, explicou ao UGA Today. “Elas não querem ser vistas. Fizemos diversos estudos que mostraram que você pode passar perto de uma cascavel enrolada, e ela não se moverá. É como entrar numa briga que elas não querem começar. As cobras não se importam conosco, a menos que nos tornemos uma ameaça.”

Para quem explora a ilha pelo Google Maps Street View, pode ser decepcionante saber que a suposta cobra gigante visível no meio da estrada não está realmente lá. A realidade da Ilha das Cobras é mais complexa do que as imagens sensacionalistas podem sugerir — trata-se de um ecossistema único, onde uma espécie ameaçada evoluiu em isolamento, desenvolvendo características distintas que a tornaram fascinante para a ciência, mas perigosa para visitantes desavisados.

O governo brasileiro mantém controles rígidos sobre o acesso à ilha, exigindo autorizações específicas para qualquer visitante humano. Essa regulamentação ajuda a proteger tanto a população de cobras ameaçadas quanto os possíveis visitantes de encontros perigosos com essas criaturas altamente venenosas.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.