A história por trás de uma das “fotos mais assustadoras” já tiradas no espaço é de arrepiar

por Lucas Rabello
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Em 1984, uma imagem capturada no espaço deixou o mundo em suspense. Nela, o astronauta Bruce McCandless II aparece flutuando completamente sozinho no vácuo escuro, a centenas de quilômetros da Terra, sem nenhuma corda ou conexão com a nave. Essa foto, considerada uma das mais impressionantes — e aterrorizantes — da exploração espacial, marcou um feito histórico: o primeiro “passeio espacial” sem amarras da NASA.

Na época, McCandless tinha 47 anos e integrava a missão do ônibus espacial Challenger. Seu objetivo principal era colocar dois satélites de comunicação em órbita, mas o que entraria para a história foi o teste de uma tecnologia revolucionária: a Manned Maneuvering Unit (MMU), uma mochila a jato que permitia aos astronautas se moverem livremente no espaço.

Até então, todos os passeios espaciais exigiam que os astronautas ficassem presos à nave por cabos de segurança. A MMU mudou isso. Equipado com pequenos propulsores a nitrogênio, o dispositivo permitia ajustes precisos de direção e velocidade. McCandless e seu colega Bob Stewart foram os primeiros a testar a unidade, saindo da Challenger em 7 de fevereiro de 1984.

A NASA disse que a foto era a "foto mais assustadora do espaço".

A NASA disse que a foto era a “foto mais assustadora do espaço”.

A velocidade era assombrosa: a nave viajava a cerca de 28 mil quilômetros por hora, e a MMU garantia que os astronautas acompanhassem esse ritmo. Para quem observava de fora, a cena parecia um pesadelo — um ser humano isolado, pairando sobre a imensidão do planeta. Mas McCandless descreveu a experiência como tranquila. “Não senti medo. Estava ocupado monitorando os sistemas e aproveitando a vista”, contou ele anos depois.

A tensão, porém, estava em terra firme. Em entrevista ao The Guardian, McCandless revelou que a NASA tinha preocupações com os riscos da missão. Sua esposa, que assistia ao lançamento no centro de controle, também estava apreensiva. Para aliviar o clima, o astronauta fez uma brincadeira ao sair da nave: “Pode ter sido um pequeno passo para o Neil [Armstrong], mas é um salto gigantesco para mim”.

O astronauta ficou caminhando por quase sete horas (NASA/MMU).

O astronauta ficou caminhando por quase sete horas (NASA/MMU).

Durante quase sete horas, McCandless flutuou a até 90 metros de distância da Challenger, sempre retornando em segurança. A ausência de som no espaço, que ele imaginava ser silenciosa, foi “quebrada” pelo constante fluxo de comunicações de rádio. “Várias pessoas me faziam perguntas ao mesmo tempo. Não deu para curtir o silêncio”, brincou.

Um momento marcante foi quando ele sobrevoou a península da Flórida. Reconhecer o formato familiar do local trouxe uma sensação de conforto. “Era reconfortante ver algo que eu conhecia lá embaixo, enquanto estávamos viajando tão rápido”, disse. A velocidade de 28 mil quilômetros por hora, equivalente a dar uma volta completa na Terra em 90 minutos, quase não era perceptível — a menos que ele olhasse para o planeta.

McCandless acumulou mais de 312 horas no espaço durante sua carreira e se aposentou da NASA em 1990. Trabalhou depois na indústria aeroespacial, contribuindo para o desenvolvimento de tecnologias de satélites. Morreu em 2017, aos 80 anos, e foi enterrado no Cemitério da Academia Naval dos EUA.

A foto icônica continua a fascinar e a provocar arrepios. Mais do que um registro técnico, ela simboliza a coragem de explorar o desconhecido — mesmo que isso signifique flutuar sozinho, sem nenhum fio para te trazer de volta.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.

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