Desde os primórdios da organização humana em sociedade, as pessoas buscam formas de punir seus criminosos e desertores. Trata-se de um tema complicado, que não é unânime até os dias de hoje, e as culturas diferem entre si em relação a como lidar com os indivíduos que não se encaixam na sociedade ou causam mal a ela.
O fato é que, no passado, governantes, líderes e poderosos em geral não poupavam violência na hora de punir aqueles que achavam que mereciam sofrer, e não faltava “criatividade” nessas horas.
Uma das formas mais assustadoras e desumanas já utilizadas como punição é conhecida como “emparedamento”. Trata-se de uma forma cruel de tirar a vida de alguém lentamente e com grande quantidade de sofrimento físico e psicológico. Nela, a vítima é confinada em um ambiente extremamente apertado, normalmente impossibilitando-a de movimentar-se, apenas com a cabeça para fora (isso em alguns casos).
Ao contrário do que acontecia, por exemplo, com as vítimas que eram enterradas vivas, os indivíduos submetidos ao emparedamento normalmente morriam de fome ou desidratação, já que o oxigênio não lhes faltava. É possível imaginar, por isso, o tamanho do sofrimento psicológico que tal método provocava, já que a vítima podia levar dias e até mesmo semanas ou meses para definitivamente perder a vida.
Este método fora utilizado, por exemplo, na Pérsia, onde até o começo dos anos 1900 alguns criminosos recebiam a pena de emparedamento, sendo totalmente cobertos por tijolos. Alguns relatos da época dão conta de que os executores muitas vezes tinham piedade dos criminosos, e lhes cimentavam até mesmo a face, impedindo a passagem de ar e agilizando a morte.
No entanto, em outros casos, eles permitiam a entrada de uma pequena quantidade de ar, prolongando por dias o sofrimento do condenado. Dizem que era possível ouvir os apenados a gritar mesmo após passados três dias do emparedamento.
Mulher vítima de muramento na Mongólia, em 1913. | Wikicommons
Mas o emparedamento não era utilizado apenas para castigar criminosos. Há relatos do antigo Império Romano que contam sobre casos de emparedamento contra sacerdotisas conhecidas como Virgo Vestalis (virgens vestais).
Estas mulheres eram descendentes de nobres famílias romanas, e eram vistas como pessoas totalmente puras e livres de qualquer “defeito” físico ou mental. As virgens, como o nome indica, faziam um voto de castidade, e cultuavam a deusa Vesta.
Qualquer tipo de desvio de conduta por parte das vestais era encarado como uma grande afronta aos deuses romanos e também à toda sociedade, e por isso eram punidos de forma capital. As virgens que eram condenadas após práticas consideradas proibidas recebiam uma pena semelhante à do emparedamento, porém com alguns diferenças.
Pintura representando o emparedamento de uma freira em 1868. | Wikicommons
Nestes casos, era cavado uma espécie de “cofre” no solo, onde era improvisada uma cama e colocada uma pequena quantidade de comida. Lá, a condenada era largada para morrer, sem qualquer tipo de amparo.
Práticas semelhantes também foram verificadas na Igreja Católica Romana, que punia seus sacerdotes que descumpriam os votos de castidade ou expressavam ideias hereges.
Estes monges, no entanto, não eram totalmente abandonados até a morte. Eles eram colocados em um estado chamado de “vade in pacem” (ou “vá em paz”), onde viviam aprisionados em uma espécie de tumba, por onde lhes davam comida através de uma pequena abertura. Lá, o monge vivia muitas vezes por anos em completo isolamento, sem qualquer contato com outras pessoas ou com o mundo exterior, até que finalmente chegava à morte.
Emparedamento como sacrifício humano
Nem sempre o emparedamento fora utilizado como forma de punição. Existem relatos, principalmente de eras medievais, que atestam que vários sacrifícios humanos foram realizados desta forma cruel, incluindo até mesmo crianças.
Diversas culturas, sobretudo as europeias, acreditavam que a oferta de uma “alma pura”, como a de uma criança, poderia ajudar a proteger as fundações de uma nova construção – como uma ponte, um castelo ou uma fortaleza. Por isso, muitas pessoas foram brutalmente cimentadas junto a castelos e demais construções sem que sequer tenham cometido qualquer tipo de delito.
Em diversas construções antigas europeias, como o Palácio Cesvaine, na Letônia e o Castelo de Shkodra, na Albânia, já foram encontrados restos mortais totalmente aderidos à fundação. Na maioria dos casos, esta prática era realizada com o intuito de garantir uma suposta segurança, estabilidade e poder ao castelo.
Como outros exemplos, podemos tomar a igreja de Holsworthy, na Inglaterra, onde foi encontrado um esqueleto adulto em meio às paredes no ano de 1885, bem como uma ponte de Bremen, na Alemanha, que revelou restos mortais de uma criança após sua demolição no começo dos anos 1800.