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A história por trás das misteriosas pessoas azuis do Kentucky

Em meados de 1820, um imigrante francês nos Estados Unidos decidiu se mudar para Troublesome Creek, um pequeno povado ao leste do Kentucky. Seu nome era Martin Fugate, e ele tinha tudo para ser apenas mais um imigrante tentando a vida nos Estados Unidos, não fosse uma rara condição genética. Essa condição, que hoje conhecemos como ‘metemoglobinemia’, fazia com que a pele de Fugate tivesse uma coloração azulada.

O rapaz casou-se com uma mulher chamada Elizabeth Smith, de cabelos ruivos e pele bem clara. Porém, por uma incrível coincidência do destino, Elizabeth também tinha os genes da metemoglobinemia, porém de forma recessiva. Isso quer dizer que, apesar de ter a pele branca, ela também podia passar adiante a sua rara condição, principalmente se tivesse filhos com alguém que compartilhasse essa carga genética.

E foi o que aconteceu.

Mistérios do Mundo

Martin Fugate ao lado da esposa e dos filhos.

Martin e Elizabeth tiveram sete filhos, sendo que quatro nasceram com a pele azul, dando início a uma família que hoje faz parte da história dos Kentucky.

Como Troublesome Creek era um pequeno assentamento, sem grandes estradas ou ferrovias que ligassem a outras cidades, as pessoas não tinham muita opção na hora de encontrar parceiros. Por conta disso, a família Fugate eventualmente acabou reproduzindo-se entre si, elevando ainda mais os casos de herança genética da condição. Na prática, a comunidade de Troublesome Creek se tornou uma espécie de “fábrica” de pessoas azuis.

Recentemente, um dos descendentes da família Fugate fez bastante sucesso na Internet. Benjamin Stacy, um dos tataranetos de Martin Fugate e Elizabeth Smith, nasceu em 1970, e fez fama na Internet ao ser chamado de “Papai Smurf”. Já falecido, ele foi o último descendente da família de que se teve notícias.

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Benjamin Stacy. | Reprodução

Em meados dos anos 60, um médico chamado Madison Cawein chegou em Troublesome Creek para tentar entender o que estava acontecendo com a família Fugate. Junto com a enfermeira Ruth Pendergrass, ele realizou uma série de experimentos e exames laboratoriais para tentar entender a origem da condição.

Depois de descartar problemas cardíacos, o médico começou a suspeitar de metemoglobinemia, mas ainda não sabia o que estava causando essa condição.

De forma resumida, a metemoglobinemia aumenta os níveis de metemoglobina nas células vermelhas do sangue, fazendo com que a pele fique azul, os lábios roxos e o sangue quase preto. Essa condição pode ser provocada pela exposição a certos produtos químicos, como a benzocaína e xilocaína.

Porém, no caso dos Fugate, como ficou comprovado pelas pesquisas, o culpado era um gene defeituoso que causava uma deficiência em uma enzima chamada ‘citocromo-b5 metemoglobina redutase’. Essa condição genética, felizmente, não causa nenhum problema físico aos seus portadores. Inclusive, grande parte dos Fugate sobreviveu além dos 80 anos de idade.

Eventualmente, Madison Cawein desenvolveu uma injeção azul de metileno, que foi capaz de deixar a pele de dois membros da família Fugate com uma coloração rosa. A solução, no entanto, era temporária, já que o metileno é expelido pelo corpo através da urina. Mesmo assim, o médico deixou um grande suprimento de comprimidos para a família, para que eles não sofressem mais com o preconceito e com as zombarias dos moradores locais.

Como o povoado de Troublesome Creek acabou por ser interligado a outras localidades, hoje em dia os riscos da condição voltar a aparecer são bem menores, já que a variação genética é muito maior. Por isso, após a morte de Benjamin Stacy, já não se sabe de nenhum descendente de Martin Fugate que tenha desenvolvido a condição e esteja vivo hoje em dia.