A China lançou um ambicioso projeto hidrelétrico avaliado em US$ 137 bilhões , estabelecendo um novo marco em infraestrutura energética de grande escala. A barragem planejada será construída no Rio Yarlung Zangbo, representando um avanço significativo em relação à atual Barragem das Três Gargantas.
Enquanto a Barragem das Três Gargantas, localizada no Rio Yangtze, atualmente gera cerca de 0,54 TWh de eletricidade por dia e suporta um fluxo de 98,8 milhões de litros por segundo, o novo projeto busca triplicar essa capacidade.
De acordo com estimativas de 2020 da Power Construction Corp of China, a nova usina poderá produzir anualmente 300 bilhões de kWh de eletricidade, representando um aumento expressivo na capacidade de energia renovável do país.
Desafios de Engenharia e Cronograma de Construção
A construção do projeto apresenta desafios de engenharia sem precedentes, incluindo a necessidade de perfurar quatro túneis de aproximadamente 20 quilômetros de extensão cada, atravessando a montanha Namcha Barwa. Esses túneis são essenciais para desviar o fluxo do rio tibetano e viabilizar o funcionamento da barragem.
O cronograma do projeto abrange 35 anos, com previsão de conclusão para 2060. Esse longo período de construção reflete a complexidade das tarefas de engenharia e a escala monumental da infraestrutura planejada. As autoridades chinesas posicionaram o projeto como uma iniciativa ambientalmente consciente que contribui para os objetivos de neutralidade climática do país.
Implicações Regionais e Ambientais
A localização e operação da barragem levantam preocupações significativas em relação ao impacto sobre os países vizinhos. O Rio Yarlung Zangbo, que se estende por 1.125 quilômetros, é uma fonte vital de água para a Índia e Bangladesh. A possível alteração dos padrões de fluxo do rio pode causar mudanças ambientais consideráveis, incluindo aumento do risco de enchentes repentinas ou até mesmo condições de seca nas regiões ribeirinhas.
Um relatório do Lowy Institute de 2020 destacou as implicações estratégicas, observando que o controle sobre os rios do Planalto Tibetano poderia dar à China uma posição de vantagem significativa sobre a economia indiana. Além disso, a localização do projeto em uma área próxima a uma falha tectônica, suscetível a atividade sísmica, gerou preocupações entre pesquisadores, que alertam para o aumento da frequência de deslizamentos de terra devido às atividades de construção e perfuração.
Considerações Sociais e Políticas
A implementação do projeto traz implicações sociais substanciais, particularmente no que diz respeito ao deslocamento de populações locais, embora ainda não se saiba quantas pessoas precisarão ser realocadas. O governo chinês afirma que os impactos ambientais serão mínimos, apesar das preocupações generalizadas de especialistas em meio ambiente e defensores dos direitos humanos.
O investimento financeiro maciço de US$ 137 bilhões destaca o compromisso da China em expandir sua capacidade hidrelétrica, mesmo diante das questões persistentes sobre as consequências sociais e ambientais de longo prazo. Este desenvolvimento representa uma interseção complexa entre política energética, gestão ambiental e política regional, com implicações que se estendem muito além das fronteiras da China.