“Cidade Perdida” no Atlântico é diferente de tudo na Terra

por Lucas Rabello
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Sob as ondas do Oceano Atlântico, encontra-se uma maravilha oculta que poderia rivalizar com a mítica cidade de Atlântida. Conhecida como a ‘Cidade Perdida’, esse campo hidrotermal foi descoberto há 14 anos, localizado a oeste da Dorsal Mesoatlântica. Ao contrário da lendária Atlântida, esta Cidade Perdida é muito real e oferece um vislumbre fascinante de ecossistemas submarinos antigos.

Imagine descer mais de 700 metros abaixo da superfície do oceano, onde você encontraria uma paisagem que parece quase alienígena. Aqui, estruturas rochosas imponentes se erguem do fundo do mar, algumas delas com mais de 120.000 anos. Essas paredes antigas fazem parte de um complexo sistema hidrotermal que se acredita ser o ambiente de ventilação mais duradouro conhecido em nossos oceanos.

Uma das características mais impressionantes dessa cidade subaquática é um monólito batizado em homenagem a Poseidon, o deus grego do mar. Em torno dessa estrutura impressionante estão chaminés que expelem gases a temperaturas que atingem 40 graus Celsius. É um ambiente severo para os nossos padrões, mas para as criaturas que habitam a Cidade Perdida, é um paraíso.

Apesar das condições extremas, a vida prospera nesse oásis subaquático. A Cidade Perdida hospeda uma diversidade de criaturas marinhas, desde minúsculos micróbios até animais maiores, como caramujos e crustáceos. Esses organismos se adaptaram para sobreviver em um ambiente onde o oxigênio é escasso, alimentando-se do hidrogênio, metano e outros gases liberados pelas fontes hidrotermais.

Microbiologistas também relataram avistamentos de vida marinha maior, como caranguejos, camarões e enguias na área. No entanto, devido aos baixos níveis de oxigênio, esses avistamentos são relativamente raros, tornando cada encontro ainda mais especial.

O que torna a Cidade Perdida realmente notável é seu potencial para nos ajudar a entender as origens da vida na Terra e possivelmente até a vida em outros planetas. Cientistas acreditam que campos hidrotermais semelhantes podem existir em outros lugares de nossos oceanos e potencialmente em outros corpos celestes. Como apontou o microbiologista William Brazelton, ecossistemas como a Cidade Perdida poderiam estar ativos agora mesmo na lua Encélado de Saturno ou na lua Europa de Júpiter, e talvez tenham existido em Marte no passado.

A descoberta da Cidade Perdida em 2000 abriu novos caminhos para a pesquisa científica e gerou inúmeros pedidos por sua proteção. No entanto, o local enfrenta ameaças potenciais de atividades de mineração em águas profundas. Em 2018, a Polônia recebeu direitos para explorar uma vasta área da Dorsal Mesoatlântica em busca de minerais valiosos como cobalto, manganês e ouro.

Esse desenvolvimento levantou preocupações entre os cientistas, que temem que a exploração e atividades de mineração possam danificar irreparavelmente esse ecossistema único. A Dra. Gretchen Fruh-Green, que liderou a equipe que descobriu a Cidade Perdida, alerta que corremos o risco de destruir esse lugar antes de compreender totalmente sua importância.

A Cidade Perdida representa mais do que apenas uma descoberta científica interessante. É uma janela para a história do nosso planeta e potencialmente para a história da própria vida. À medida que continuamos a explorar e estudar essa maravilha subaquática, também devemos considerar como protegê-la. O equilíbrio delicado desse ecossistema antigo, uma vez perturbado, pode nunca se recuperar, levando consigo insights inestimáveis sobre as origens da vida e o potencial para vida em outros planetas.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.