Você já se perguntou se um dia poderia ter mais de 24 horas? Acontece que a rotação do nosso planeta está realmente desacelerando, e a mudança climática está desempenhando um papel surpreendente nesse processo. Um novo estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences revela que o derretimento das calotas polares está fazendo a Terra girar mais lentamente, resultando em dias mais longos.
Para entender esse fenômeno, vamos começar com uma analogia simples. Imagine uma patinadora artística fazendo uma pirueta. Quando a patinadora puxa os braços para perto do corpo, ela gira mais rápido. Mas quando ela estica os braços, sua rotação desacelera. A Terra está passando por algo semelhante, mas em uma escala muito maior.
À medida que o gelo na Groenlândia e na Antártida derrete devido ao aquecimento global, a água resultante flui em direção ao equador. Essa redistribuição de massa é como a patinadora esticando os braços. Ela aumenta a inércia física da Terra, fazendo com que o planeta gire mais lentamente.
Você pode estar se perguntando como os cientistas medem essas pequenas mudanças na rotação da Terra. Eles usam técnicas incrivelmente precisas. Um método é chamado Interferometria de Linha de Base Muito Longa, que mede quanto tempo leva para sinais de rádio do espaço chegarem a diferentes pontos na Terra. Outra ferramenta é o Sistema de Posicionamento Global (GPS), que pode detectar mudanças na rotação da Terra com precisão de até um centésimo de milissegundo. Os pesquisadores até analisaram registros de eclipses antigos que datam de milhares de anos para entender as tendências de longo prazo na rotação do nosso planeta.
Agora, você pode estar pensando: “Quanto mais longos nossos dias estão realmente ficando?” Atualmente, a mudança é muito pequena – estamos falando de milissegundos. Entre 1900 e hoje, a mudança climática fez nossos dias ficarem cerca de 0,8 milissegundos mais longos. Isso não é algo que podemos perceber em nossas vidas diárias. No entanto, se as emissões de gases de efeito estufa continuarem em um ritmo elevado, o efeito pode se tornar mais perceptível. Até o ano 2100, apenas a mudança climática pode fazer com que nossos dias fiquem 2,2 milissegundos mais longos em comparação ao ano de 1900.
Vale notar que a rotação da Terra tem desacelerado por milhões de anos devido à atração gravitacional da Lua. Esse efeito, chamado fricção de maré, tem causado uma desaceleração gradual de cerca de 2,40 milissegundos por século. O que surpreende no novo estudo é que ele prevê que a mudança climática pode ter um impacto ainda maior na rotação da Terra do que a atração da Lua até o final deste século, se continuarmos emitindo gases de efeito estufa em um ritmo elevado.
Você pode estar se perguntando por que isso importa. Afinal, alguns milissegundos aqui e ali não parecem muito. No entanto, essas pequenas mudanças podem ter implicações significativas, especialmente para a exploração espacial e a navegação. Quando se comunica com espaçonaves no sistema solar, como as sondas Voyager, saber a orientação exata da Terra é crucial. Mesmo uma pequena desvio pode resultar em sinais sendo desviados por quilômetros quando alcançam seus alvos distantes.
Também é importante lembrar que a Terra não é uma esfera perfeita. É mais um “esferoide oblato” que se abaula ligeiramente ao redor do equador, como uma laranja ligeiramente achatada. Essa forma está constantemente mudando devido a vários fatores, incluindo marés diárias, o movimento das placas tectônicas e eventos súbitos como terremotos e erupções vulcânicas. O derretimento das calotas polares é agora outro fator que influencia a forma e a rotação do nosso planeta.
À medida que continuamos a estudar e entender esses processos planetários complexos, fica cada vez mais claro que nossas ações hoje moldarão a Terra de amanhã – até mesmo a velocidade com que ela gira.