Andras Toma: Soldado preso por 56 anos libertado em 2000

por Lucas Rabello
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Capturado pelo exército soviético no final de 1944, o soldado húngaro Andras Toma estabeleceu um recorde para o maior tempo passado como prisioneiro de guerra, sendo finalmente libertado em 2000. Sim, mais de meio século como prisioneiro.

Andras foi capturado perto de Cracóvia, na Polônia, durante os caóticos últimos meses da Segunda Guerra Mundial. Seja em dezembro de 1944 ou janeiro de 1945, ninguém sabe ao certo. Ele foi então espremido em um vagão sem aquecimento com dezenas de outros prisioneiros para uma jornada exaustiva até um campo de prisioneiros de guerra. As condições eram brutais: temperaturas congelantes, doenças e ferimentos não tratados. Andras mais tarde lembrou de ter dormido sobre corpos mortos para sobreviver ao frio.

Quando chegou ao campo de Leningrado, o caos continuou. Seu nome foi registrado incorretamente como Andras Tamas. Um simples erro de escritório, mas que selou seu destino. Perdido na história, ele se tornou apenas mais um prisioneiro sem nome entre milhares.

Andras passou 53 anos como prisioneiro de guerra (East News/Liaison)

Andras passou 53 anos como prisioneiro de guerra (East News/Liaison)

Em 1947, o impacto da guerra e do cativeiro levou Andras ao limite. Ele sofreu um colapso mental e foi transferido para um hospital psiquiátrico. Lá, passou os próximos 53 anos, incapaz de se comunicar com alguém porque ninguém falava húngaro. A equipe assumiu que ele era mudo. Para piorar, sua perna direita foi amputada devido a uma condição médica desconhecida. Então, lá estava ele, preso em um hospital psiquiátrico, sem uma perna, sem voz, em uma terra estrangeira.

Avançando para 1997, um cidadão falante de húngaro finalmente o descobriu. Sim, demorou mais de cinco décadas para alguém que falava sua língua encontrá-lo. Andras foi levado de volta à Hungria em agosto de 2000, onde se reuniu com seus irmãos. Sua irmã, Anna Gabulyla, confirmou sua identidade através de testes de DNA, dizendo que ele parecia exatamente como seu falecido pai.

Adaptar-se à vida fora foi tudo menos suave. Anna descreveu os primeiros dias como um pesadelo. “Nós o banhamos e o colocamos na cama, então pensamos, ‘Como vamos sobreviver a isso?'”, lembrou. Andras resistia ao carinho e mal falava, insistindo, “Não me toque!” Ele tomava café da manhã em silêncio e depois exigia sair, sem perceber que agora esta era sua casa.

Andras se uniu à irmã depois de ficar internado em um hospital psiquiátrico por 53 anos.

Andras se uniu à irmã depois de ficar internado em um hospital psiquiátrico por 53 anos.

Algumas semanas depois, houve um avanço quando Andras se ofereceu para consertar algumas ferramentas quebradas. “Dê-me suas ferramentas ruins e eu as consertarei”, disse ele, quebrando seu quase silêncio. A partir de então, ele encontrou propósito em consertar ferramentas, trabalhando meticulosamente por dias a fio.

Infelizmente, Andras faleceu em 2004, apenas alguns anos após seu retorno.

O Destino dos Prisioneiros da Segunda Guerra Mundial

Milhões de soldados e civis foram capturados durante a Segunda Guerra Mundial, enfrentando condições inimagináveis em campos de prisioneiros. Muitos destes campos, como os famosos Stalags alemães e os gulags soviéticos, eram notórios por suas condições desumanas. Os prisioneiros muitas vezes sofriam de desnutrição, doenças e abusos físicos. A sobrevivência dependia não apenas da resistência física, mas também da capacidade de manter a esperança e a vontade de viver, mesmo nas situações mais desesperadoras.

A Cruz Vermelha Internacional desempenhou um papel crucial na tentativa de aliviar o sofrimento dos prisioneiros de guerra. Eles se esforçaram para enviar pacotes de alimentos, medicamentos e roupas, além de facilitar a comunicação entre os prisioneiros e suas famílias. No entanto, essas iniciativas muitas vezes esbarravam na burocracia e nas barreiras impostas pelos países em guerra. Em muitos casos, a ajuda chegava tarde demais ou era insuficiente para fazer uma diferença significativa.

Após a guerra, a repatriação dos prisioneiros foi um processo longo e complicado. Muitos soldados passaram meses, senão anos, esperando para voltar para casa. A documentação e a verificação de identidades eram processos lentos e sujeitos a erros, como foi o caso de Andras Toma. Alguns prisioneiros voltaram para encontrar suas famílias desfeitas ou suas casas destruídas, iniciando um novo capítulo de desafios em suas vidas já marcadas pelo conflito.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.