Em outubro de 2013, o dinamarquês Thor Pedersen decidiu embarcar em uma jornada sem precedentes: visitar todos os 193 países do mundo sem usar aviões. O plano inicial era concluir o desafio em quatro anos, mas imprevistos — incluindo uma pandemia global — estenderam a aventura para quase uma década.
Finalmente, em maio de 2023, ele pisou nas Maldivas, seu destino final, entrando para a história como a primeira pessoa a percorrer todas as nações do planeta exclusivamente por terra e mar. Entre experiências memoráveis, Thor identificou dois lugares que, em sua opinião, se destacam negativamente: Tuvalu e o Vaticano.
Homem que visitou todos os países do mundo sem voar revela o pior lugar onde esteve
Localizado no Pacífico Sul, Tuvalu é um arquipélago formado por nove ilhas, com população aproximada de 11,5 mil habitantes. Independente do Reino Unido desde 1978, o país enfrenta desafios únicos. Apesar de suas praias paradisíacas e da hospitalidade local, Thor critica o fluxo de recursos financeiros destinados à nação.
“Não é sobre as pessoas, que são gentis, ou a beleza natural, que existe em abundância”, explica. “Questiono o investimento contínuo em infraestruturas que, em 70 a 100 anos, estarão submersas.” A elevação do nível do mar, agravada pelas mudanças climáticas, coloca Tuvalu na lista de locais “extremamente vulneráveis”, segundo a ONU. Para o viajante, realocar a população e redirecionar verbas seriam medidas mais eficientes do que investir em um território condenado a desaparecer.
Tuvalu é o pior país do mundo segundo Thor
A crítica de Thor, porém, não se limita a questões ambientais. Ele também questiona a relevância global do país. “O que Tuvalu contribui para o mundo?”, provoca. “Enquanto milhões são gastos para mantê-lo funcionando, seria mais sensato preparar um futuro sustentável para seus habitantes em outros lugares.”
A opinião polêmica ignora aspectos culturais e políticos, como a soberania nacional, mas reflete a frustração de quem testemunhou de perto a complexidade de manter uma nação à beira do colapso geográfico.
Já o Vaticano, menor Estado soberano do mundo, recebeu avaliação igualmente contundente. Com área de 0,49 quilômetros quadrados e cercado por Roma, o enclave é o centro administrativo da Igreja Católica. Thor não poupou críticas: “Nenhuma criança nasce lá, não há hotéis ou restaurantes, e você é literalmente expulso ao final do dia”.
O viajante se refere ao horário de funcionamento limitado: após as 23h, as portas se fecham para visitantes, que só podem retornar no dia seguinte. “É o único país onde te dizem: ‘Acabou o tempo, estamos fechando. Volte amanhã'”, brinca, classificando o local como “terrível” em termos de experiência prática.
A jornada de Thor foi incrível (UNILAD)
Recentemente, um americano que adotou o nome de Leo assumiu a liderança do Vaticano, fato que Thor menciona com ironia. A referência, ainda que não detalhada, parece aludir às complexidades políticas e simbólicas de um Estado que, apesar de seu peso religioso, opera sob regras incomuns.
Sem residentes permanentes — a população é composta principalmente por religiosos e funcionários temporários —, o Vaticano carece de serviços básicos encontrados em outras nações. Para um viajante que busca imersão cultural, a falta de vida cotidiana e a natureza cerimonial do local podem parecer decepcionantes.
A jornada de Thor, registrada em livros e documentários, revelou tanto belezas quanto contradições globais. Enquanto países como Tuvalu lutam contra a ameaça existencial do aquecimento global, o Vaticano mantém uma existência quase simbólica, desconectada de convenções territoriais tradicionais.
O dinamarquês, que percorreu mais de 260 mil quilômetros usando navios, trens e carros, ressalta que cada nação tem sua narrativa, mas algumas deixam marcas menos positivas.
Entre os 193 países visitados, outros também figuraram em sua lista de destinos desafiadores, mas nenhum gerou tanto debate quanto Tuvalu e o Vaticano. Enquanto o primeiro enfrenta um futuro incerto, o segundo permanece como um paradoxo: um Estado sem cidadãos fixos, onde a espiritualidade e a burocracia se entrelaçam. Para Thor, mais do que rankings, a viagem destacou a diversidade de realidades — das inspiradoras às francamente frustrantes — que compõem o mapa-múndi.