Por que especialistas em saúde estão chocados com o diagnóstico de câncer agressivo de Joe Biden

Na última semana, um anúncio médico envolvendo o ex-presidente dos Estados Unidos Joe Biden gerou debates intensos entre especialistas em saúde.

Aos 82 anos, Biden foi diagnosticado com um tipo agressivo de câncer de próstata, classificado como Gleason 9 (Grupo 5), com metástase óssea. A revelação, feita por sua equipe após exames para investigar problemas urinários, trouxe à tona questionamentos sobre como um quadro tão sério não foi identificado em estágios mais iniciais.

O sistema Gleason, usado para avaliar a gravidade do câncer de próstata, varia de 1 a 5, sendo o Grupo 5 o mais severo. A pontuação de 9, próxima do máximo (10), indica células altamente anormais e de crescimento rápido.

Apesar disso, médicos afirmaram que o câncer de Biden é sensível a hormônios, o que permite controlá-lo com medicamentos que bloqueiam a produção hormonal e freiam o avanço da doença.

Profissionais de saúde dizem estar chocados ao saber do diagnóstico do ex-presidente
Profissionais de saúde dizem estar chocados ao saber do diagnóstico do ex-presidente

Mas por que a notícia causou surpresa? Especialistas destacam que cânceres com essa agressividade não se desenvolvem de um dia para o outro. O Dr. Howard Forman, professor de radiologia e saúde pública da Universidade Yale, levantou dúvidas públicas: é difícil imaginar que um tumor com Gleason 9 não tenha elevado os níveis de PSA (Antígeno Prostático Específico) em exames anteriores.

O PSA é um marcador sanguíneo crucial para detectar alterações na próstata, e valores elevados costumam acender alertas anos antes de um diagnóstico avançado. “Ele certamente fez vários exames de PSA durante a presidência. Isso é incomum”, comentou Forman.

O médico e cientista Steven Quay reforçou o ponto em um artigo: mesmo nas formas mais agressivas, o câncer de próstata leva de cinco a sete anos sem tratamento para se tornar metastático. Isso sugere que, se Biden não realizava acompanhamento regular, um sinal importante pode ter passado despercebido. Porém, Quay ressalva que, em casos raros — principalmente em homens idosos —, a doença pode acelerar de forma imprevisível.

A Sociedade Americana de Câncer destaca que a maioria dos casos é detectada precocemente por meio de rastreamento, já que os estágios iniciais frequentemente são assintomáticos.

Quando os sinais aparecem, incluem dificuldade para urinar, aumento da frequência urinária, fluxo fraco ou sangue na urina. No entanto, muitos homens convivem com a doença por décadas sem manifestações claras, o que reforça a importância de exames regulares, especialmente após os 50 anos.

O histórico médico de Biden já havia sido alvo de atenção pública. Durante seu mandato, especulações sobre sua saúde ganharam força após uma performance considerada debilitada em um debate contra Donald Trump em 2020.

Na época, a Casa Branca negou veementemente rumores sobre problemas cognitivos, como Alzheimer. Além disso, em 2021, Biden removeu um pólipo benigno, porém potencialmente pré-canceroso, do cólon. Dois anos depois, tratou um carcinoma basocelular, tipo comum de câncer de pele, com cirurgia simples.

A decisão de Biden de não buscar a reeleição, transferindo o apoio à vice Kamala Harris três meses antes das eleições, também levantou questionamentos. Apesar de não haver ligação direta entre o câncer e essa escolha, o contexto de saúde pública — somado à idade avançada — alimentou discussões sobre transparência médica em figuras políticas.

O filho de Biden, Beau, faleceu de um tumor cerebral em 2015
O filho de Biden, Beau, faleceu de um tumor cerebral em 2015

Há ainda um aspecto pessoal profundamente ligado à trajetória de Biden: a morte de seu filho Beau, em 2015, vítima de um tumor cerebral agressivo aos 46 anos. Durante a presidência, Biden transformou a luta contra o câncer em uma de suas bandeiras, impulsionando iniciativas para reduzir mortes pela doença. O diagnóstico recente, ironicamente, coloca-o agora no papel de paciente.

Para oncologistas, o caso ilustra desafios complexos. O câncer de próstata, embora comum (é o segundo mais frequente em homens no mundo), tem comportamento variável. Enquanto alguns tumores crescem lentamente, permitindo monitoramento, outros evoluem rapidamente, exigindo tratamentos imediatos.

A metástase óssea, como no caso de Biden, indica que células cancerígenas migraram para os ossos, um estágio mais crítico, mas ainda tratável com terapias hormonais, quimioterapia ou radiação.

O uso de medicamentos para bloquear hormônios, como a testosterona, é comum nesses cenários. Esses tratamentos, porém, podem causar efeitos colaterais significativos, como fadiga, perda de massa muscular e alterações de humor. A escolha pelo manejo clínico — em vez de intervenções mais invasivas — sugere que a equipe médica prioriza o controle da doença e a qualidade de vida do paciente.

O debate sobre a detecção tardia, entretanto, permanece. Dados do Instituto Nacional de Câncer dos EUA mostram que cerca de 90% dos casos de câncer de próstata são identificados em estágios localizados, com alta taxa de sobrevida. Isso contrasta com situações como a de Biden, onde o diagnóstico ocorreu já com metástase. A falta de sintomas claros em fases iniciais reforça a necessidade de conscientização sobre exames preventivos, mesmo em pacientes assintomáticos.

Enquanto Biden inicia seu tratamento, o caso reacende discussões sobre saúde pública, envelhecimento e a importância do acesso a check-ups regulares. Para milhões de homens, a história serve como alerta: o câncer de próstata pode ser silencioso, mas o diagnóstico precoce salva vidas. E, em um mundo onde figuras públicas enfrentam doenças sob os holofotes, a transparência e a ciência seguem como pilares para decisões informadas.