Zak Wilkinson, de 32 anos, parecia ter tudo sob controle: uma rotina impecável de treinos, uma dieta rigorosa e o sonho de se destacar em competições de bodybuilding. Mas o que começou como uma busca por força e definição muscular se transformou em uma batalha pela vida. Sua história, marcada por escolhas radicais, revela os riscos invisíveis por trás do uso excessivo de substâncias para melhorar o físico.
Natural de Middlesbrough, no Reino Unido, Wilkinson dedicava horas diárias à academia. Seu treino incluía levantamento de peso e pelo menos 45 minutos de exercícios aeróbicos.
Para manter a massa muscular, alimentava-se apenas de cinco ingredientes: frango, brócolis, arroz, claras de ovo e bife. Nada de açúcar, gordura ou variações no cardápio. A disciplina parecia exemplar, mas havia um segredo por trás dos músculos impressionantes: o uso de esteroides anabolizantes.
Por mais de 13 anos, o britânico injetou hormônios sintéticos até três vezes ao dia. O vício começou com gastos moderados, mas, a partir de 2023, seu consumo disparou. Em apenas três meses, ele desembolsou mais de 750 libras mensais (cerca de R$ 4.800) nas substâncias. O corpo, porém, não conseguiu suportar a carga. Em março de 2023, após crises de vômito e convulsões, Wilkinson foi levado às pressas para o hospital.
No pronto-socorro, os médicos o colocaram em coma induzido por sete dias. Exames apontaram que as convulsões foram provocadas pelo uso combinado de drogas, incluindo os esteroides. Quando acordou, enfrentou outro desafio: reaprender a andar e a falar.
“Pensei que nunca mais veria meu filho”, contou Wilkinson, pai de uma criança de três anos. A recuperação, considerada “milagrosa” pela equipe médica, não apagou as sequelas. Ele desenvolveu epilepsia, transtorno de estresse pós-traumático e distúrbios alimentares.
O caso de Wilkinson não é isolado. Segundo o professor Adam Taylor, especialista em anatomia da Universidade de Lancaster, os esteroides androgênicos anabolizantes são as drogas mais usadas por quem busca melhorar a aparência ou o desempenho físico. “O aumento de pessoas que se automedicam com essas substâncias é alarmante”, alerta. Entre os perigos estão danos cerebrais, infartos e problemas de mobilidade a longo prazo.
O ex-bodybuilder, que trabalha como montador de andaimes, admite que o vício o consumiu. “Eu me dedicava 100%: dieta, treino, drogas… Não bebi álcool por um ano e meio. Achava que era o mais forte e saudável, mas por dentro estava destruído”, desabafou. Hoje, ele alerta para os riscos de uma cultura que glorifica o físico perfeito. “Muitos jovens estão sendo afetados. É por isso que tantos bodybuilders morrem precocemente.”
Apesar dos avisos de especialistas, o uso de esteroides continua a crescer, impulsionado por influenciadores digitais que promovem as substâncias sem citar os efeitos colaterais. Para Taylor, a exposição nas redes sociais cria uma ilusão de segurança. “Casos como o de Zak mostram que as consequências podem ser irreversíveis”, reforça.
Wilkinson, hoje em reabilitação, ainda enfrenta flashbacks do período no coma e luta para reconstruir a relação com o próprio corpo. Sua jornada serve de alerta: a busca por resultados rápidos pode custar mais do que imagina.