Um casal britânico decidiu passar a lua de mel em Sorrento, uma cidade costeira italiana famosa por suas vistas deslumbrantes e clima romântico. Porém, o que começou como uma semana de celebração terminou em uma batalha pela vida — e em uma luta por respostas. Thomas Coupland, de 44 anos, e Natasha, sua esposa de 40, relataram como uma infecção rara, contraída durante a viagem, deixou sequelas irreversíveis no corpo do engenheiro aerospacial.
A história começou em maio do ano passado, quando o casal desembolsou mais de R$ 10 mil para uma estadia de sete dias em um hotel na região da Campânia. Tudo parecia perfeito até o voo de volta ao Reino Unido. Durante a viagem, Thomas começou a sentir mal-estar, com sintomas que lembravam os de uma gripe forte. Nos dias seguintes, o quadro piorou: febre alta, diarreia e dificuldades respiratórias se intensificaram, obrigando-o a procurar um médico.
Inicialmente, os sintomas foram diagnosticados como uma infecção pulmonar comum, e ele recebeu antibióticos. Porém, em vez de melhorar, seu estado se agravou rapidamente. Uma semana após o retorno, Thomas foi levado às pressas para o Northern General Hospital, em Sheffield. Lá, os médicos descobriram que seu coração batia a 214 batimentos por minuto — mais que o triplo da frequência cardíaca normal de um adulto em repouso (60 a 100 bpm). O cenário era crítico: ele sofreu uma insuficiência cardíaca e quase teve um infarto.
A lua de mel de Thomas e Natasha se transformou em um inferno depois que o recém-casado passou mal (SWNS).
“Foi assustador ver como tudo aconteceu tão rápido. Natasha e nosso filho estiveram perto de me perder”, relembra Thomas. Para salvá-lo, os médicos precisaram aplicar um choque elétrico no corpo dele, em agosto de 2023, para restaurar o ritmo cardíaco normal. Após exames, veio o diagnóstico: doença dos legionários, uma infecção pulmonar grave causada pela bactéria Legionella pneumophila.
O Que é a Doença dos Legionários?
De acordo com o serviço público de saúde do Reino Unido (NHS), a doença é rara, mas potencialmente fatal. A contaminação ocorre quando uma pessoa inala minúsculas gotículas de água contaminada pela bactéria. Locais com sistemas complexos de água — como hotéis, hospitais ou grandes edifícios — são os principais focos de risco, especialmente se a manutenção for negligenciada. Ar-condicionado, hidromassagens, chuveiros pouco utilizados e piscinas mal tratadas são ambientes propícios para a proliferação da bactéria.
Os sintomas iniciais incluem tosse seca, febre acima de 38°C, dores musculares e confusão mental. Em casos graves, a infecção evolui para pneumonia e complicações sistêmicas, como a que atingiu Thomas. Apesar de tratável com antibióticos específicos, o diagnóstico precoce é crucial. No caso do engenheiro, a detecção tardia permitiu que a bactéria afetasse órgãos vitais, incluindo o coração.
A Suspeita: Condições Precárias no Hotel
O casal acredita que a contaminação ocorreu no hotel onde se hospedaram. Thomas descreveu o quarto como “imundo”: o chuveiro estava coberto por uma crosta de calcário e mofo preto, e a água da piscina parecia esverdeada. “Era para ser a semana mais feliz das nossas vidas, mas acabou se tornando um pesadelo”, lamentou.
Após o diagnóstico, o casal decidiu processar o estabelecimento. Eles contrataram a advogada Jennifer Hodgson, especialista em casos internacionais de lesões graves, para investigar se as condições do local teriam facilitado a proliferação da Legionella. “Edifícios com sistemas hídricos complexos, como hotéis, exigem manutenção rigorosa. A presença de biofilme em chuveiros ou tubulações é um sinal de alerta”, explica Hodgson.
O pai afirma que ainda sofre as consequências da doença um ano depois (SWNS).
A bactéria se desenvolve em água parada e temperaturas entre 20°C e 45°C — exatamente a faixa comum em sistemas de água quente mal regulados. A limpeza inadequada de filtros de ar-condicionado e a falta de desinfecção em torneiras pouco usadas também são fatores de risco. No caso do hotel em Sorrento, a combinação de mofo, calcário e água aparentemente não tratada pode ter criado o ambiente ideal para o surto.
Vida Após a Doença: Limitações e Adaptações
Embora tenha sobrevivido, Thomas enfrenta consequências permanentes. Antes ativo, ele agora luta contra fadiga crônica, arritmias cardíacas ocasionais e redução da capacidade pulmonar. “Não consigo mais jogar futebol, nadar ou brincar de luta com meu filho de três anos. É devastador explicar a ele por que papai não pode mais fazer essas coisas”, desabafa.
A rotina da família mudou radicalmente. Como Thomas não tem mais condições de cuidar do filho sozinho em seus dias de folga, o casal precisa contratar cuidadores — um custo adicional inesperado. “É uma adaptação difícil, tanto emocional quanto financeira”, admite Natasha.
O casal quer alertar outras pessoas para terem cuidado com os locais onde se hospedam no exterior (SWNS).
Um Alerta Para Viajantes
A história de Thomas não é isolada. Entre 2018 e 2023, o NHS registrou uma média de 500 casos anuais de doença dos legionários no Reino Unido, com taxa de mortalidade de 10% a 12%. Na Europa, países como Itália, França e Espanha reportam surtos esporádicos, muitas vezes ligados a hotéis ou navios de cruzeiro.
Para reduzir os riscos, especialistas recomendam que viajantes verifiquem as avaliações recentes dos estabelecimentos, especialmente em relação à limpeza. Ao chegar ao quarto, uma inspeção rápida em chuveiros, torneiras e sistemas de ar pode fazer diferença: água turva, mau cheiro ou sinais de ferrugem e mofo são bandeiras vermelhas. Deixar a água correr por alguns minutos antes do primeiro uso também ajuda a eliminar possíveis bactérias acumuladas.
Enquanto aguardam os resultados da investigação, Thomas e Natasha esperam que seu caso incentive maior fiscalização em hotéis e conscientize outros viajantes. “Precisamos de respostas, mas também queremos evitar que outras famílias passem por isso”, finaliza Thomas. A busca por justiça, agora, é tão importante quanto a recuperação — ainda que incompleta — de um homem que quase perdeu a vida no auge de sua felicidade.