O país vizinho do Brasil pouco conhecido: pertence à União Europeia e tem o euro como moeda oficial

por Lucas Rabello
0 visualizações

Na costa nordeste da América do Sul, entre o Brasil e o Suriname, existe um território que desafia as noções convencionais de geografia e política: a Guiana Francesa. Enquanto todos os países ao seu redor utilizam moedas locais, como o real brasileiro ou o dólar surinamês, essa região carrega uma identidade única — o euro é sua moeda oficial. Além disso, apesar de estar fisicamente localizada na América do Sul, a Guiana Francesa é parte integrante da França e, consequentemente, da União Europeia. Esse status especial a torna o único território do continente sul-americano que participa ativamente das políticas e instituições europeias.

A história da Guiana Francesa começa muito antes da chegada dos europeus. Originalmente habitada por povos indígenas, como os caribes e os arawaks, a região foi avistada por Cristóvão Colombo em 1498, durante sua terceira viagem ao “Novo Mundo”. Os colonizadores europeus, atraídos por rumores de riquezas, disputaram o controle da área ao longo dos séculos. Holandeses, ingleses e portugueses tentaram estabelecer bases, mas foram os franceses que, em 1676, consolidaram seu domínio. Desde então, a Guiana Francesa permaneceu sob administração francesa, exceto por breves períodos de ocupação durante conflitos europeus.

   Guiana Francesa

Hoje, o território é oficialmente um departamento ultramarino da França, o que significa que seus habitantes têm os mesmos direitos e deveres dos cidadãos que vivem na Europa continental. Eles elegem representantes para o Parlamento francês e para o Parlamento Europeu, participando diretamente das decisões políticas que afetam toda a União Europeia. Essa integração vai além da política: as estradas são sinalizadas em francês, os produtos vendidos em supermercados seguem padrões europeus, e até a educação segue o sistema francês.

A capital, Caiena, é um reflexo dessa dualidade cultural. Caminhar por suas ruas revela uma mistura de arquitetura colonial europeia com influências tropicais. Edifícios históricos, como o Fort Cépérou — uma fortificação do século XVII —, coexistem com mercados vibrantes onde se encontram especiarias locais e artesanato indígena. A culinária também é um testemunho dessa fusão, combinando técnicas francesas com ingredientes amazônicos, como o peixe fresco e frutas exóticas.

Guiana Francesa

Um dos símbolos mais impressionantes da presença europeia na região é o Centro Espacial de Kourou, operado pela Agência Espacial Europeia (ESA). Inaugurado em 1965, o centro é um dos mais importantes do mundo para lançamento de satélites, graças à sua localização próxima à Linha do Equador, que permite economia de combustível durante os lançamentos. Foguetes como o Ariane 5 e o Vega já partiram dali, colocando em órbita satélites de comunicação, meteorológicos e científicos. O centro emprega milhares de pessoas e atrai profissionais de diversos países, criando um ambiente multicultural único.

Além da tecnologia espacial, a Guiana Francesa é conhecida por sua biodiversidade. Cerca de 98% de seu território é coberto por floresta tropical, parte da Amazônia. O Parque Amazônico da Guiana, uma das maiores reservas naturais do mundo, protege espécies ameaçadas, como a onça-pintada e a arara-azul. A região também abriga comunidades indígenas que mantêm tradições milenares, como os wayana e os wayampi, cujos conhecimentos sobre a floresta são transmitidos oralmente através de gerações.

Guiana Francesa

Apesar das conexões com a Europa, a Guiana Francesa enfrenta desafios típicos de sua localização geográfica. O acesso terrestre aos países vizinhos é limitado — não há estradas ligando o território ao Brasil ou ao Suriname. A maioria das conexões ocorre por voos ou barcos. Além disso, a extração ilegal de ouro em áreas remotas da floresta tem causado danos ambientais e conflitos sociais, um problema que autoridades locais e europeias buscam combater.

Com uma população de aproximadamente 300 mil habitantes, a Guiana Francesa é um mosaico de culturas. Além dos descendentes de colonos franceses e de comunidades indígenas, há grupos significativos de crioulos, haitianos, brasileiros e surinameses. O francês é a língua oficial, mas dialetos crioulos e línguas indígenas também são falados no cotidiano.

A Guiana Francesa continua a surpreender pela capacidade de unir dois mundos aparentemente distantes: as florestas úmidas da Amazônia e as estruturas políticas de Bruxelas, os foguetes de alta tecnologia e os ritos ancestrais de seus povos originários. Seu território, com cerca de 83.534 km², é um laboratório vivo de como identidades múltiplas podem coexistir sob uma mesma bandeira.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.

Você não pode copiar conteúdo desta página