O Dia dos Namorados está chegando, e enquanto muitos correm para garantir um encontro especial, uma influencer digital chamada Aika Kittie já acumulou mais de 500 propostas românticas. O detalhe mais curioso? Ela não é uma pessoa real. Criada por inteligência artificial, Aika conquistou quase 100 mil seguidores no Instagram e fatura mais de 6,2 mil dólares compartilhando fotos em viagens, ensaios de moda e momentos descontraídos com amigos virtuais. Mas, por trás das selfies perfeitas e das postagens glamourosas, não há um ser humano de carne e osso — apenas algoritmos e pixels.
Aika existe na plataforma de assinaturas Fanvue, onde interage com fãs por meio de mensagens, imagens geradas por IA e até notas de voz. Seu perfil imita o de uma influencer comum: ela posta “haul de compras”, posa em cenários luxuosos e mantém uma estética cuidadosamente planejada. A ilusão é tão convincente que, nas últimas semanas, centenas de homens enviaram convites extravagantes para passar o 14 de fevereiro ao seu lado. Entre as propostas, destacam-se jantares em restaurantes exclusivos de Londres, viagens românticas a Paris, passeios de compras em lojas como Louis Vuitton e até voos de jato particular para Dubai.
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A influencer digital recebeu centenas de propostas de encontro (aikakittie/Instagram).
Segundo o criador de Aika, a equipe levou horas para analisar todas as mensagens recebidas. Apesar de não poder comparecer pessoalmente aos encontros — por motivos óbvios —, a influencer virtual deve ter o dia mais movimentado do ano. Seu cronograma inclui 18 horas de interação contínua com os fãs, respondendo a mensagens e “curando corações solitários” por meio do chat da plataforma. A expectativa é que os assinantes inundem seu perfil com declarações de amor virtual, presentes digitais e solicitações de atenção personalizada.
Esse fenômeno não é isolado. Relações parassociais — conexões emocionais unilaterais com figuras públicas ou personagens — estão se tornando mais frequentes na era digital. Nos Estados Unidos, o cirurgião-geral Vivek Murthy alertou para uma “epidemia de solidão”, com 21% dos adultos relatando sentimentos intensos de isolamento, segundo pesquisa da Universidade de Harvard. Murthy comparou os efeitos da solidão prolongada aos danos de fumar 15 cigarros por dia, destacando o impacto na saúde física e mental. Nesse contexto, plataformas que oferecem companhia virtual, como a Fanvue, ganham espaço.
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A influencer é totalmente criada por inteligência artificial (aikakittie/Instagram).
A Fanvue permite que usuários conversem não apenas com influencers digitais, mas também com acompanhantes virtuais programados para simular empatia e engajamento. Um porta-voz da plataforma afirmou que criadores de IA como Aika estão conquistando audiências massivas ao compartilhar suas “jornadas digitais” de forma semelhante a influencers humanos. O serviço de chat, disponível para todos os criadores da plataforma, é um dos mais populares, e a empresa prevê um pico de acesso no Dia dos Namorados, especialmente entre solteiros que preferem passar a data online.
Aika Kittie é apenas um exemplo de como a inteligência artificial está redefinindo interações sociais. Seus fãs sabem que ela não existe fisicamente, mas muitos continuam investindo tempo e recursos em uma relação que, para eles, oferece conforto e conexão. Enquanto alguns criticam a ideia de substituir humanos por algoritmos, outros veem nisso uma solução prática para a carência emocional exacerbada pela vida moderna. Seja como for, o sucesso de Aika ilustra uma tendência crescente: a busca por afeto e companhia não precisa mais ser limitada ao mundo real — pelo menos não no universo digital.