O ‘cheiro de idoso’ é real: por que ele acontece e a partir de que idade começa a ser sentido?

por Lucas Rabello
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Você já imaginou que seria possível descobrir a idade de uma pessoa apenas pelo cheiro? Um estudo realizado em 2012 revelou que os humanos são capazes de distinguir se alguém é jovem ou idoso usando apenas o olfato. A pesquisa, publicada na revista científica PLOS One, investigou como o odor corporal varia entre diferentes faixas etárias e como nosso nariz interpreta essas informações.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores coletaram amostras de suor de voluntários de três grupos: jovens (20 a 30 anos), adultos de meia-idade (45 a 55 anos) e idosos (75 a 95 anos). Os participantes dormiram por cinco noites seguidas com camisetas especiais, equipadas com absorventes nas axilas para capturar o odor. Depois, os panos com o suor foram cortados em pedaços e colocados em frascos, que foram apresentados a outro grupo de voluntários, com idades entre 20 e 30 anos. A tarefa era simples: cheirar as amostras e estimar a idade do doador, além de avaliar se o aroma era agradável ou não.

Os resultados foram surpreendentes. Os participantes identificaram com mais precisão os odores associados a pessoas idosas, classificando-os como “menos desagradáveis” do que o esperado. Embora exista uma concepção popular de que o “cheiro de velho” seja incômodo — conhecido no Japão como kareishu —, o estudo mostrou que, na verdade, o odor foi percebido como neutro pela maioria. De acordo com Johan Lundström, neurocientista sensorial e autor sênior da pesquisa, é possível que outros fatores, como o hálito ou odores da pele, contribuam para a percepção negativa culturalmente difundida.

Mas o que causa essa assinatura olfativa da idade? Um estudo separado apontou o 2-Nonenal, um composto químico produzido pela decomposição de ácidos graxos na pele, como um dos responsáveis. Essa substância, descrita como um aldeído insaturado com aroma “gorduroso e herbáceo”, aumenta significativamente após os 40 anos e se intensifica sobretudo a partir dos 70 anos. Além disso, mudanças na produção de lipídios cutâneos ao longo do envelhecimento podem alterar a maneira como a pele interage com bactérias, influenciando o odor característico.

A pergunta que fica é: por que os humanos desenvolveram a capacidade de detectar a idade pelo cheiro? Os pesquisadores sugerem que, assim como ocorre em outras espécies, isso pode ter relação com a seleção de parceiros. Em alguns insetos, por exemplo, machos mais velhos são preferidos pelas fêmeas, já que alcançar uma idade avançada indica habilidades de sobrevivência e adaptação. No caso dos humanos, a hipótese é que o odor possa transmitir indícios sobre saúde, fertilidade ou compatibilidade genética, auxiliando inconscientemente na escolha de companheiros.

Outra possibilidade é que essa habilidade tenha evoluído para evitar doenças ou identificar parentescos. Odores corporais carregam informações sobre o sistema imunológico, e a capacidade de discernir entre jovens e idosos pode ter sido útil em contextos sociais ou de proteção. Lundström destaca que, em animais, os cheiros ajudam a evitar indivíduos doentes, selecionar parceiros e reconhecer membros da mesma família — e os humanos não seriam exceção.

Apesar das descobertas, ainda há mistérios. Os cientistas não sabem exatamente como o cérebro processa essas pistas olfativas nem qual vantagem evolutiva específica está por trás do fenômeno. Mais pesquisas são necessárias para entender se o “cheiro da idade” varia entre gêneros, como fatores como dieta ou ambiente influenciam sua intensidade e de que forma outras culturas — além do exemplo japonês — interpretam esses odores.

Enquanto isso, a próxima vez que você sentir um aroma peculiar em um ambiente frequentado por idosos, lembre-se: seu nariz pode estar decifrando mais informações do que você imagina. E, quem sabe, essa habilidade escondida no olfato humano ainda reserve segredos fascinantes para a ciência desvendar.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.

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