As pessoas estão descobrindo que o líquido vermelho no bife não é realmente sangue

por Lucas Rabello
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Já aconteceu de você pedir um suculento bife mal passado e, ao cortá-lo, se deparar com um líquido vermelho escorrendo? A primeira reação pode ser de preocupação: “Isso é sangue?”. Mas aqui vai uma revelação que vai mudar sua relação com a carne — e talvez até seu próximo pedido no restaurante.

Aquele líquido vermelho que aparece no prato não é sangue. Repita comigo: não é sangue. Por mais que a aparência lembre algo “sanguinolento”, a verdade é que praticamente todo o sangue é removido da carne ainda durante o processamento, antes mesmo de chegar ao açougue ou à sua geladeira. Então, o que diabos é aquilo que escorre do seu bife?

A temperatura adequada de um bife depende da preferência pessoal.

A temperatura adequada de um bife depende da preferência pessoal.

A resposta está em uma combinação de dois elementos: água e uma proteína chamada mioglobina. Sim, a água representa cerca de 75% da composição da carne, mas o grande protagonista aqui é a mioglobina. Presente nas fibras musculares de animais, essa proteína tem a função de armazenar oxigênio nos músculos — especialmente em regiões como o coração e os músculos esqueléticos. A cor vermelha intensa surge graças ao ferro presente em sua estrutura, que reage com o oxigênio e adquire essa tonalidade característica.

Isso explica por que carnes de animais como bois, porcos e cordeiros são classificadas como “vermelhas”: a concentração de mioglobina é maior nesses mamíferos. Por outro lado, aves e frutos do mar possuem níveis mais baixos dessa proteína, o que faz com que sua carne seja mais clara. Ou seja, aquele filé de frango grelhado nunca vai “sangrar” como um contrafilé bovino, mesmo que esteja mal passado.

Isso mesmo — só água e mioglobina aqui.

Isso mesmo — só água e mioglobina aqui.

Agora, uma curiosidade para impressionar os amigos: quanto mais um músculo é usado pelo animal, mais mioglobina ele tende a ter. É por isso que cortes como o acém (localizado no pescoço do boi, área de movimento constante) são naturalmente mais vermelhos do que o filé mignon, que é um músculo pouco exercitado. Falando nesse último…

Você sabia que o famoso filé mignon não é o preferido de alguns chefs? David Burke, um renomado chef americano, revelou em uma entrevista que evita esse corte — mesmo sendo considerado sofisticado. A explicação é simples: o filé mignon ganhou popularidade na França por ser fácil de trabalhar (já que não tem ossos) e por absorver molhos com facilidade, mas, segundo Burke, ele não é o mais saboroso. Para muitos especialistas, cortes como o ribeye ou o entrecot oferecem mais gordura marmorizada, resultando em um sabor mais intenso e suculento.

Voltando à mioglobina: além de esclarecer o mito do “sangue” no prato, entender essa proteína ajuda a escolher o ponto ideal da carne. Quando você pede um bife “mal passado”, o centro permanece vermelho justamente porque a mioglobina, aquecida a uma temperatura mais baixa, mantém sua cor. Já em um bife bem passado, o calor prolongado altera a estrutura da proteína, fazendo com que o interior fique marrom.

E se você é do time que adora um “sangue” extra, pode relaxar. Não só não há sangue ali como a mioglobina é inofensiva — e, de quebra, contribui para a suculência da carne. Inclusive, muitos chefs defendem que um bom bife mal passado preserva melhor os nutrientes e o sabor natural do alimento.

Para finalizar, uma dica prática: na próxima vez que estiver em um churrasco ou restaurante, observe a cor do líquido que escorre da carne. Lembre-se de que é basicamente água tingida pela mioglobina — e não um resquício de sangue. E se alguém ao lado da mesa comentar sobre isso, você já tem um fato curioso para compartilhar. Quem sabe até convencer alguém a experimentar um ponto mais suculento?

Ah, e quanto ao filé mignon… Bem, cada um tem seu paladar, mas talvez valha a pena explorar outros cortes. O mundo da carne é cheio de opções — e agora você já sabe que nenhuma delas vai “sangrar” de verdade.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.