Homem diagnosticado com demência aos 49 anos revela a mudança sutil que o fez perceber que algo estava errado

por Lucas Rabello
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Para muitos, os 40 e poucos anos são uma fase de planejar a aposentadoria com viagens, hobbies ou mais tempo com a família. Mas para Peter Alexander, essa etapa chegou de forma inesperada e dolorosa. Aos 49 anos, ele recebeu um diagnóstico que transformou sua vida: demência frontotemporal (DFT), a mesma condição que afeta personalidades como Bruce Willis e Wendy Williams.

O Que é Demência Frontotemporal?

Peter, fotografado com sua esposa Jill (Peter Alexander).

Peter, fotografado com sua esposa Jill (Peter Alexander).

A demência frontotemporal é um termo que engloba várias doenças cerebrais que afetam principalmente os lobos frontal e temporal do cérebro. Essas regiões são responsáveis por funções como personalidade, comportamento e linguagem. De acordo com a Mayo Clinic, quando essas áreas sofrem atrofia (encolhimento), os sintomas variam: alguns pacientes têm mudanças drásticas de personalidade, tornando-se impulsivos ou emocionalmente indiferentes, enquanto outros perdem a capacidade de se comunicar com clareza.

Ao contrário do Alzheimer — mais associado à perda de memória —, a DFT muitas vezes se manifesta de maneira sutil, mas impactante. No caso de Peter, os primeiros sinais surgiram no ambiente de trabalho, algo que ele jamais imaginaria ligar a uma doença neurodegenerativa.

Sintomas Iniciais: Uma Mudança Discreta, Mas Decisiva

Peter trabalhava normalmente até perceber que algo estava errado. “Comecei a ter dificuldade para cumprir prazos, algo que nunca foi um problema antes”, contou ele à BBC News. Durante reuniões, as palavras simplesmente sumiam de sua mente, deixando-o em silêncio no meio de frases. A princípio, ele não suspeitou de algo grave, mas decidiu consultar um neurologista.

Peter ficou naturalmente chocado ao ser diagnosticado com demência frontotemporal tão jovem.

Peter ficou naturalmente chocado ao ser diagnosticado com demência frontotemporal tão jovem.

O exame de ressonância magnética revelou a causa: áreas do cérebro relacionadas ao julgamento e à linguagem estavam encolhendo. No dia 14 de janeiro de 2018, o diagnóstico oficial chegou. “O médico me disse que não era mais seguro continuar trabalhando”, relembra Peter. “Meu filtro social e minha capacidade de tomar decisões estavam comprometidos.”

A Vida Após o Diagnóstico: Adaptação e Identidade

Aos 56 anos, Peter vive com a esposa, Jill, na Irlanda do Norte. A doença trouxe desafios práticos: ele precisou abandonar a carreira, e o casal teve de reorganizar rotinas. Mas, para Peter, o maior obstáculo é o preconceito. “As pessoas pensam que demência é só sobre esquecer coisas, mas é mais complexo”, explica. “Muitos não entendem que ainda sou a mesma pessoa por dentro.”

Ele enfatiza que, apesar das limitações, sua essência permanece intacta. “Posso não conseguir me expressar como antes, mas dentro de mim, ainda sou o Peter.” Sua história ressalta um ponto crucial: o diagnóstico tardio de DFT é comum, e as famílias enfrentam pressão emocional e financeira durante a busca por respostas.

Demência Frontotemporal: Um Desafio Além da Memória

A DFT é uma das formas menos compreendidas de demência. Enquanto casos como o de Bruce Willis trouxeram mais atenção à condição, muitos pacientes ainda lutam contra a invisibilidade. Peter destaca a importância de enxergar além do diagnóstico: “É vital ver a pessoa, não apenas a doença”.

Sua jornada ilustra como a demência pode surgir em plena idade produtiva, desafiando estereótipos sobre quem é afetado por doenças neurodegenerativas. Para ele, cada dia é uma oportunidade de conscientizar o público — não sobre esquecimentos, mas sobre a complexidade de viver com uma condição que redefine, mas não apaga, quem ele é.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.