Passar por um divórcio é considerado um dos eventos mais desafiadores da vida. Além da perda do parceiro, das disputas por guarda de filhos e de bens, pesquisas revelam que esse processo pode acelerar o envelhecimento físico. Um estudo conduzido pelo cirurgião plástico Dr. Bahman Guyuron, de Cleveland, nos Estados Unidos, mostrou que o fim de um casamento pode adicionar quase dois anos à aparência de uma pessoa.
Gêmeas Revelam o Impacto do Estresse no Rosto
Para entender como fatores externos influenciam o envelhecimento, Guyuron analisou 186 pares de gêmeos idênticos durante o Twins Day Festival, em Ohio. A ideia era comparar irmãos com históricos conjugais diferentes: alguns divorciados, outros casados ou solteiros. Fotografias digitais e questionários detalhados foram usados para identificar diferenças nas rugas, linhas de expressão e outros sinais de idade.
Um caso emblemático foi o de Janet e Jean, gêmeas de 54 anos. Jean, que se divorciou após 27 anos de casamento, apresentava olheiras mais escuras, rugas profundas entre as sobrancelhas e linhas de sorriso mais marcadas. Já Janet, ainda casada e em um relacionamento estável, aparentava ser mais jovem. A diferença entre elas? 1,7 ano a mais na aparência de Jean, segundo os avaliadores do estudo.
O Papel do Estresse Crônico no Envelhecimento
O Dr. Guyuron explica que conflitos prolongados em relacionamentos desgastantes geram estresse crônico, que danifica o DNA das células e provoca inflamação no organismo. Esses processos biológicos aceleram a degradação do colágeno e da elastina, proteínas responsáveis pela firmeza da pele. Além disso, tensões emocionais frequentes levam a expressões faciais repetitivas, como franzir a testa, que contribuem para o surgimento de rugas.
O estudo também destacou que não é o divórcio em si que envelhece, mas sim o ambiente emocional vivido antes, durante e após a separação. Gêmeos que permaneceram em casamentos felizes ou solteiros, sem grandes conflitos, mantiveram uma aparência mais jovial ao longo dos anos.
Efeitos a Longo Prazo: Quando o Divórcio dos Pais Afeta a Saúde dos Filhos
As consequências de um divórcio podem se estender além do casal. Uma pesquisa com 13 mil americanos acima de 65 anos mostrou que adultos que vivenciaram o divórcio dos pais na infância têm maior risco de desenvolver problemas graves de saúde. Entre os entrevistados, 1 em cada 9 foi diagnosticado com condições potencialmente fatais, como AVC (Acidente Vascular Cerebral), em comparação a 1 em cada 15 entre aqueles cujos pais permaneceram juntos.
O AVC é uma das principais causas de morte no mundo, responsável por 5 milhões de óbitos anuais. Nos Estados Unidos, em 2022, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) relataram que 1 em cada 6 mortes por doenças cardiovasculares estava ligada a derrames. A conexão entre trauma emocional na infância e riscos cardiovasculares na velhice ainda está sendo investigada, mas cientistas acreditam que o estresse prolongado pode alterar sistemas hormonais e imunológicos ao longo da vida.
Metodologia e Descobertas
No estudo com gêmeos, os participantes passaram por avaliações detalhadas. Um painel de especialistas analisou imagens faciais sem saber o histórico de cada irmão, focando em marcas como linhas de expressão, flacidez e textura da pele. As respostas dos questionários, que incluíam perguntas sobre hábitos de vida, saúde mental e histórico conjugal, foram cruzadas com as observações físicas.
Os resultados reforçaram a ideia de que relacionamentos turbulentos deixam marcas visíveis. Além do divórcio, outros fatores como tabagismo, exposição solar e obesidade também influenciaram o envelhecimento, mas o estado civil mostrou um impacto significativo quando combinado com estresse emocional.
Enquanto a ciência busca entender melhor essas relações, os estudos servem para ilustrar como emoções e saúde física estão profundamente conectadas — e como momentos difíceis podem, literalmente, mudar nosso rosto.