Autoridades estão oferecendo $ 1 milhão para quem conseguir decifrar enigma de 5.000 anos

por Lucas Rabello
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Autoridades da Índia estão oferecendo uma recompensa de US$ 1 milhão para quem decifrar um enigma de 5 mil anos. O desafio? Traduzir a misteriosa escrita Harappana, também chamada de Escrita do Vale do Indo (IVS, na sigla em inglês), deixada por uma das primeiras civilizações urbanas da humanidade. Apesar de décadas de estudo por linguistas e arqueólogos, os símbolos gravados em centenas de artefatos continuam indecifráveis — e agora o prêmio milionário busca atrair mentes criativas de todas as áreas para resolver o quebra-cabeça.

A escrita foi criada pela Civilização do Vale do Indo, que surgiu há cerca de 5.300 anos na região que hoje corresponde ao norte da Índia e ao Paquistão. Esse povo prosperou por séculos, construindo cidades planejadas com sistemas avançados de drenagem e comércio extensivo, antes de desaparecer por motivos ainda desconhecidos. Além de ruínas impressionantes, eles deixaram milhares de selos e tabletes com inscrições curtas, compostas por símbolos abstratos e figuras de animais — como elefantes, touros e criaturas mitológicas.

Você consegue decifrar a escrita?

Você consegue decifrar a escrita?

O primeiro registro da escrita Harappana foi descoberto em 1875 por Sir Alexander Cunningham, fundador do Archaeological Survey of India. Ele encontrou seis caracteres desconhecidos em um selo, mas não conseguiu identificar sua origem ou significado. Na época, Cunningham chegou a afirmar que os símbolos “certamente não são letras indianas”, marcando o início de um mistério que perdura até hoje. Desde então, mais de 7 mil artefatos com a mesma escrita foram recuperados, mas nenhum deles trouxe pistas suficientes para uma decodificação.

Um dos maiores obstáculos é a ausência de um “texto paralelo” — algo como a Pedra de Roseta, que ajudou a decifrar hieróglifos egípcios ao apresentar a mesma mensagem em múltiplas línguas. Além disso, as inscrições do Vale do Indo são extremamente curtas: a maioria tem entre cinco e dez símbolos, muitas vezes acompanhados de imagens de animais. Para piorar, não há registros de qual língua a civilização falava, o que dificulta associar os símbolos a sons ou palavras conhecidas.

Você pode ficar rico se ajudar a decifrar o código.

Você pode ficar rico se ajudar a decifrar o código.

Especialistas acreditam que a escrita não era usada para documentar eventos históricos ou rituais religiosos, como em outras culturas antigas. A hipótese mais aceita é que os selos serviam para identificar propriedades, marcar mercadorias ou registrar transações comerciais — algo prático, ligado ao cotidiano de uma sociedade organizada e urbanizada. No entanto, sem uma chave de interpretação, até essa teoria permanece incerta.

Diante do impasse, o governo do estado indiano de Tamil Nadu anunciou a recompensa de US$ 1 milhão em 2023, aberta a qualquer pessoa ou instituição que consiga decifrar a escrita de forma satisfatória para arqueólogos. O anúncio gerou uma onda de entusiasmo: engenheiros, profissionais de tecnologia e até aposentados passaram a afirmar ter desvendado o código. Rajesh PN Rao, professor da Universidade de Washington que estuda a escrita há anos, relatou à BBC que recebe inúmeras mensagens de autoproclamados “decifradores”, muitos dizendo que “o caso está encerrado”.

Apesar das alegações, nenhum candidato apresentou uma solução amplamente aceita pela comunidade científica. Parte do problema é a falta de consenso sobre critérios para validar a decifração. Enquanto alguns defendem que a escrita Harappana é logográfica (cada símbolo representa uma palavra), outros apostam em sistemas mistos ou até em códigos numéricos. Até hoje, não há sequer certeza se a escrita era lida da direita para a esquerda ou em outra direção.

Enquanto o prêmio continua sem dono, os artefatos do Vale do Indo seguem como um dos maiores mistérios da arqueologia. Cada novo estudo ou tentativa de interpretação alimenta a esperança de que, um dia, os símbolos silenciosos revelem segredos sobre uma civilização que dominou técnicas urbanas milênios antes de seu tempo — e depois sumiu sem deixar rastros claros de seu legado linguístico.

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.