Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, continua a defender sua famosa promessa de “tornar a América grande novamente” — e uma de suas estratégias mais comentadas envolve o aumento de tarifas sobre produtos estrangeiros. Em um discurso recente no Trump National Doral, seu clube de golfe em Miami, na Flórida, o político de 78 anos surpreendeu ao detalhar planos para revitalizar a economia do país usando medidas protecionistas. Suas declarações reacenderam debates sobre os impactos desse modelo, que remonta a um período histórico específico dos EUA.
Durante o evento, Trump citou o final do século XIX e início do século XX como uma era de prosperidade econômica, atribuindo parte desse sucesso às tarifas comerciais da época. Entre 1870 e 1913, os EUA adotaram impostos elevados sobre importações, e o político mencionou a Comissão de Tarifas de 1887, criada para administrar os altos recursos arrecadados. “Eles não sabiam o que fazer com tanto dinheiro”, afirmou, destacando que, naquele período, não existia imposto de renda federal — instituído apenas em 1913.
Mas o que são tarifas, afinal? De forma simples, são taxas aplicadas a produtos importados, pagas pelas empresas que os trazem ao país. O objetivo é encarecer mercadorias estrangeiras para incentivar o consumo de itens nacionais. No entanto, esse custo adicional costuma ser repassado aos consumidores, elevando preços de eletrônicos, veículos, roupas e outros bens. Trump sugeriu substituir o imposto de renda por esse sistema, alegando que “em vez de taxar nossos cidadãos para enriquecer nações estrangeiras, devemos taxar essas nações para enriquecer nossos cidadãos”.
Especialistas, porém, apontam riscos. Após a Segunda Guerra Mundial, as tarifas perderam espaço em economias avançadas justamente por provocarem efeitos colaterais: redução do comércio internacional, aumento de preços e retaliações de outros países. Um relatório do Council on Foreign Relations ressalta que medidas protecionistas podem desencadear “guerras comerciais”, nas quais nações afetadas respondem com taxas semelhantes, prejudicando exportações locais.
Nas redes sociais, a proposta dividiu opiniões. Um usuário do X (antigo Twitter) resumiu a reação com um “Uau”, enquanto outro admitiu: “Não sou fã dele, mas reduzir ou cancelar o imposto de renda faria uma diferença enorme”. Já um terceiro defendeu: “Cidadãos americanos não deveriam pagar; deveríamos taxar todos os países que usaram nossa economia como poupança”.
Trump também vinculou sua estratégia a figuras históricas, como Theodore Roosevelt, 26º presidente dos EUA, que herdou um governo com alta arrecadação de tarifas após o assassinato de William McKinley em 1901. Roosevelt usou parte desses recursos para financiar projetos como a criação de parques nacionais. O ex-presidente enfatizou que, na ausência do imposto de renda, as tarifas eram a principal fonte de receita federal na época.
Apesar do tom otimista — “a América ficará muito rica novamente, e isso acontecerá rapidamente” —, a ideia enfrenta ceticismo. Analistas questionam se o contexto atual, marcado por cadeias de produção globais e interdependência econômica, permitiria replicar um modelo do século XIX sem gerar inflação ou conflitos comerciais. Enquanto isso, o debate sobre quem pagaria a conta — cidadãos comuns ou governos estrangeiros — segue aberto.