Cientistas intrigados após descobrirem montanhas “secretas” na Terra 100 vezes mais altas que o Everest

por Lucas Rabello
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Quando pensamos em montanhas imponentes, o Monte Everest logo vem à mente. Com mais de 8.840 metros de altura, ele é o pico mais alto acima do nível do mar e um símbolo da grandiosidade da natureza. Mas e se disséssemos que o Everest é uma pequena colina comparado a duas estruturas colossais escondidas no interior da Terra?

Cientistas descobriram montanhas do tamanho de continentes, localizadas a cerca de 2.000 quilômetros abaixo da superfície, com alturas que chegam a aproximadamente 1.000 quilômetros—mais de 100 vezes mais altas que o Everest. Esses picos misteriosos, encontrados no limite entre o núcleo e o manto da Terra, estão reescrevendo nossa compreensão sobre a geologia do planeta.

Os Gigantes Escondidos Sob Nossos Pés

A descoberta dessas montanhas subterrâneas foi feita por pesquisadores da Universidade de Utrecht, que usaram ondas sísmicas de terremotos para mapear o interior da Terra. Essas ondas diminuem de velocidade ao passar por materiais densos ou quentes, permitindo que os cientistas “ouçam” a estrutura interna do planeta.

Você pode encontrar as estruturas abaixo da superfície da Terra (Edward Garnero; S. W. French, B. A. Romanowicz, Geophys. J. Int. 199, 1303, 2014).

Você pode encontrar as estruturas abaixo da superfície da Terra (Edward Garnero; S. W. French, B. A. Romanowicz, Geophys. J. Int. 199, 1303, 2014).

O que eles encontraram foram duas regiões massivas, cada uma do tamanho de um continente, localizadas sob a África e o Oceano Pacífico. Essas regiões, conhecidas como Grandes Províncias de Baixa Velocidade Sísmica (LLSVPs, na sigla em inglês), são mais quentes e mais antigas que o manto ao seu redor, com algumas partes possivelmente datando da formação da Terra, há mais de quatro bilhões de anos.

A Dra. Arwen Deuss, cientista líder do estudo, explicou que essas estruturas são diferentes de tudo que já vimos. “Ninguém sabe ao certo o que são”, disse ela. “Elas podem ser fenômenos temporários ou podem estar ali há bilhões de anos.” O que está claro é que essas montanhas são antigas e podem guardar pistas sobre os primeiros momentos da história da Terra.

Um Mistério Quente no Manto Terrestre

Um dos aspectos mais intrigantes dessas montanhas subterrâneas é sua temperatura. As LLSVPs são significativamente mais quentes que o manto ao seu redor, o que afeta a forma como as ondas sísmicas viajam por elas. A Dra. Sujania Talavera-Soza, coautora do estudo, comparou o fenômeno a correr em um dia quente.

Elas podem ser encontradas no manto.

Elas podem ser encontradas no manto.

“Assim como quando está calor e você sai para correr, você fica mais lento e se cansa mais rápido”, explicou. Da mesma forma, as ondas sísmicas diminuem de velocidade ao passar por essas regiões quentes, criando um “tom” distinto que os cientistas conseguem detectar.

Mas há uma surpresa. Embora as ondas diminuam de velocidade, elas não perdem muita energia—um fenômeno conhecido como amortecimento. Isso sugere que o material que compõe essas montanhas é diferente do manto ao seu redor. “Encontramos pouco amortecimento nas LLSVPs, o que faz com que os tons soem muito altos ali”, revelou a Dra. Talavera-Soza. Em contraste, regiões mais frias do manto, como os “cemitérios de placas tectônicas”, onde as placas afundam, absorvem mais energia, fazendo com que os tons sejam mais suaves.

O Que Essas Montanhas Nos Contam Sobre a História da Terra?

A descoberta dessas montanhas antigas desafia crenças antigas sobre o manto terrestre. Durante décadas, os cientistas acreditaram que o manto estava em constante movimento, com correntes de convecção misturando seu conteúdo ao longo do tempo. Mas a existência de estruturas que podem ter bilhões de anos sugere o contrário. Se essas montanhas permaneceram intocadas por tanto tempo, isso indica que o manto não é tão bem misturado quanto pensávamos.

Um diagrama que mostra como as "montanhas" aparecem no manto (Universidade de Utrecht).

Um diagrama que mostra como as “montanhas” aparecem no manto (Universidade de Utrecht).

A Dra. Talavera-Soza explicou que os grãos minerais nessas montanhas são muito maiores que os do manto ao redor, indicando que tiveram tempo para crescer ao longo de milhões—ou até bilhões—de anos. “Esses grãos minerais não crescem da noite para o dia”, disse ela. “Isso só pode significar uma coisa: as LLSVPs são muito mais antigas que os cemitérios de placas ao seu redor.”

Essa revelação abre novas perguntas sobre a formação e a evolução da Terra. Será que essas montanhas são remanescentes dos primeiros dias do planeta? Elas estão conectadas à formação dos continentes ou ao movimento das placas tectônicas? Por enquanto, as respostas permanecem desconhecidas, mas uma coisa é certa: esses gigantes escondidos são um testemunho da complexidade da Terra e dos mistérios que ainda estão sob nossos pés.

À medida que os cientistas continuam a explorar essas estruturas enigmáticas, somos lembrados de que, mesmo no século 21, nosso planeta ainda guarda segredos esperando para serem desvendados. Quem sabe que outras maravilhas—ou montanhas—podem estar escondidas nas profundezas da Terra?

Lucas Rabello
Lucas Rabello

Fundador do portal Mistérios do Mundo (2011). Escritor de ciência, mas cobrindo uma ampla variedade de assuntos. Ganhou o prêmio influenciador digital na categoria curiosidades.